Título: Sem-terra tomam Incra no Recife
Autor: Lacerda, Angela
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2007, Nacional, p. A12
Cerca de 200 integrantes do Movimento Trabalho, Terra e Liberdade (MTL) fecharam ontem a sede do Incra no Recife. Eles haviam pernoitado no prédio e de manhã impediram a superintendente Maria de Oliveira e os funcionários de entrarem para trabalhar. Depois de tentar negociar a desocupação, sem sucesso, Maria dispensou os funcionários e entrou com ação de reintegração de posse.
¿É uma situação complicada para o meu currículo, mas não me deram alternativa¿, afirmou Maria, ex-ouvidora agrária nacional e vice-presidente da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo. Na sua avaliação, a mobilização do MTL é política e tem como pano de fundo a briga por cargos. Maria é filiada ao PSB e avalia que o MTL age em conjunto com a tendência do PT Democracia Socialista (DS) - a mesma do ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel.
O presidente do diretório municipal do PT, Oscar Barreto, da DS, negou a acusação e disse que Maria quer ¿estigmatizar¿ o MTL para fugir da sua responsabilidade como gestora.
Os manifestantes só aceitam negociar as reivindicações com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Incra nacional. O coordenador nacional do MTL, Róbson Brandão, afirmou que desde 2003, quando Maria assumiu o Incra, o movimento não teve nenhuma reivindicação atendida. ¿Ela usa o aparelho policial do Estado para reprimir uma ação legítima pela qual ela é responsável, devido à sua inoperância e incompetência em responder à nossa pauta.¿
A superintendente disse que a maior reclamação do MTL é a liberação de recursos para convênios de assistência técnica. Ela argumentou que quando assumiu o cargo já havia uma proibição da Justiça Federal para a realização de convênios com a entidade representada pelo MTL, por causa de denúncia de desvio de dinheiro. ¿Tenho minha consciência tranqüila.¿
MOBILIZAÇÃO
O Movimento dos Sem-Terra (MST) informou ter feito duas ocupações dentro da jornada nacional de luta pela reforma agrária, o ¿abril vermelho¿. As invasões ocorreram anteontem, em Bonito e Açucena, com participação de 400 famílias.
O MST estadual promete mobilizar 5 mil pessoas neste mês para protestar contra a lentidão da reforma agrária e a impunidade no campo. Os sem-terra tradicionalmente intensificam as ações este mês, aniversário do massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, que completa 11 anos. Em 17 de abril de 1996, 19 sem-terra morreram em conflito com policiais militares.