Título: Chineses cobram definição do Brasil
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2007, Economia, p. B5

A China quer saber de que lado o Brasil estará nas disputas abertas pelos Estados Unidos contra Pequim na Organização Mundial do Comércio (OMC). Ontem, diplomatas chineses pediram uma reunião com representantes do Itamaraty em Genebra para saber qual será a posição do País em relação ao processo aberto pelos americanos contra os subsídios dos chineses às suas indústrias. Os chineses ainda ameaçaram publicamente o governo americano, alertando que os processos poderão ter conseqüências para as relações entre os dois países.

Durante a reunião, o Brasil se limitou a dizer que não tem instruções para entrar no caso. A preocupação dos chineses ocorre porque a queixa dos EUA toca no centro da política industrial do país. Para a Casa Branca, Pequim usa seu sistema tributário para incentivar exportações e reduzir custos das empresas no exterior. O déficit dos EUA com a China atinge US$ 232 bilhões.

Os chineses abordaram o Itamaraty em um momento em que estão sendo bombardeados com casos na OMC. O último foi aberto ontem pelos EUA contra a falta de ação da China em combater a pirataria, e provocou uma dura reação das autoridades chinesas.

ADESÕES

O pior, para Pequim, é que a guerra promete se ampliar. A União Européia (UE), por meio do porta-voz de Comércio da Comissão Européia, Peter Power, confirmou que o bloco vai se aliar aos EUA e pedirá para entrar no processo como terceira parte. A Europa é o maior destino das exportações chinesas e seu déficit com Pequim chegou a US$ 130 bilhões em 2006. Dados da Comissão Européia apontam que, em 2002, 80 milhões de produtos falsificados foram confiscados nos países do bloco.

Outro país que poderá entrar na disputa é o Japão. Hoje, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, participa de uma cúpula com o premiê japonês Shinzo Abe. Os japoneses não querem azedar o clima da primeira viagem dos líderes chineses ao Japão em sete anos, mas confirmam que receberam um pedido de apoio de Washington e vão estudar o caso.

No Itamaraty, diplomatas afirmam que o Brasil ainda não definiu se pedirá para fazer parte do caso. 'Estamos esperando os documentos para fazer uma análise', disse um diplomata. Segundo o governo, o Brasil já iniciou um diálogo com a China sobre a pirataria, mas nenhuma ação conjunta foi realizada até agora. Sabe-se que 75% dos produtos falsificados vendidos no Brasil são fabricados na Ásia, principalmente na China.

O governo chinês, irritado, atacou a Casa Branca e alertou que a medida 'vai minar seriamente a cooperação entre os dois países e as relações econômicas'. Wang Xinpei, porta- voz do Ministério de Comércio da China, manifestou ontem a 'forte insatisfação' das autoridades de Pequim em relação à disputa. 'O governo chinês sempre foi firme em proteger a propriedade intelectual e vem obtendo resultados significativos nesse aspecto', disse Xinpei. 'A decisão de levar o caso à OMC vai contra o consenso entre os líderes das duas nações de fortalecer as relações econômicas e comerciais bilaterais e resolver nesse âmbito qualquer problema que venha a existir', afirmou Xinpei.