Título: Jorge diz que não defende empresário incompetente
Autor: Abreu, Beatriz e Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2007, Economia, p. B6

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, mandou ontem um duro recado aos empresários que reclamam da política cambial. Ele disse que não será um mero repassador das reclamações para a equipe econômica e que medidas para compensar a perda de competitividade devem atingir setores específicos. 'O ministro do Desenvolvimento não é defensor dos empresários. É defensor do desenvolvimento, da indústria e do comércio. O empresário incompetente, improdutivo e ineficiente não pode ser defendido pelo ministro', afirmou.

Segundo ele, a valorização cambial precisa ser discutida com tranqüilidade e setorialmente. 'Temos que avaliar o que acontece em cada setor e, se preciso, agir em cada setor.' Para o ministro, em um sistema de câmbio flutuante, não se pode ter o melhor dos mundos em todos os momentos. 'O que é bom para uns nem sempre é bom para outros', disse.

Miguel Jorge sinalizou que devem vir novas reduções tributárias para setores que estão perdendo competitividade. 'Claro que tem coisas que precisam ser atacadas, como a prática de dumping ou onerações demasiadas de produtos. Mas essa discussão tem que ser interna e não pode ser feita pela imprensa', disse.

Ele promete usar o seu perfil de negociador para administrar as pressões do setor produtivo, de um lado, e da área econômica, do outro. O ex-ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, era conhecido pelos seus embates públicos com a equipe econômica. 'Cada um tem seu estilo. Não é o meu. Eu sou negociador. Aprendi no ABC paulista. Não há melhor lugar para aprender negociar', avisou, lembrando os tempos em que negociava pela Volkswagen com os metalúrgicos.

O ministro esteve ontem no Congresso Nacional e visitou os presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia, e do Senado, Renan Calheiros, além do senador e ex-ministro Francisco Dornelles. Ele disse que são visitas de cortesia e que pretende manter a melhor relação possível com o Congresso. 'Teremos uma interlocução freqüente com a Câmara e o Senado.' Miguel Jorge considera importantes alguns projetos em tramitação no Congresso, como o projeto de lei para Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim).

Em relação ao projeto que cria as Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs), Miguel Jorge acredita que pode ser interessante, mas com certos cuidados. É preciso, ele diz, garantir controles corretos para que os produtos produzidos nas ZPEs sejam realmente exportados.

Ele também se disse contrário a permitir subsídios, já que essas zonas serão livres de impostos, para que parte dos produtos também seja vendida no mercado interno. Para ele, causaria uma competição desleal.