Título: 'Só as grandes empresas é que estão bombando'
Autor: Abreu, Beatriz e Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2007, Economia, p. B6

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) contesta a afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, feita segunda-feira na abertura da Feira Internacional de Autopeças (Automec), em São Paulo, de que quando se encontra individualmente com empresários ele não ouve queixas sobre a condução da política econômica, e sim que os negócios estão 'bombando' nas empresas.

Para Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da Fiesp, Lula tem tido contatos só com grandes empresas, que vão bem, ao contrário das pequenas e médias, que são maioria.

'Certamente os empresários que têm acesso ao presidente são os poderosos, donos das maiores empresas que estão numa situação boa porque têm acesso a capital externo, tomam financiamento de fora a juro barato e fazem draw-back (importação de matérias-primas com isenção de imposto para posteriormente exportar o produto industrializado)', diz.

O diretor da Fiesp observa que a situação é diferente quando Lula conversa com associações de classe, que falam pelo conjunto das empresas, que envolve pequenas e médias, de setores onde a concorrência está acirrada, especialmente com importações subfaturadas da China. 'O pessoal está morrendo porque não agüenta mais a concorrência dos importados e a exportação está onerosa.'

Giannetti da Fonseca pondera que os dois cenários criam um paradoxo e Lula fica na dúvida sobre quem fala a verdade. 'Ele precisa entender que os empresários que o procuram são ilhas de excelência e não representam a média do empresariado brasileiro, que está sofrendo pra caramba.'

'Depende de como se olha a garrafa: alguns dizem que está meio cheia e outros meio vazia', diz Renato Holzheim, diretor da Saint Gobain Sekurit, fabricante de vidros automotivos. 'O Lula vê a garrafa meio cheia.' Segundo ele, o 'câmbio atrapalha barbaramente as exportações'.

A Saint Gobain, que no período 2003/2004 fez grandes investimentos em linhas para exportação e contratou pessoal, só não demitiu porque, por enquanto, o mercado interno absorve a produção. A empresa exportava 15% da produção e hoje exporta no máximo 5%, com tendência de parar toda a venda externa, hoje sem rentabilidade.

Para Holzheim, o momento não é para chorar, mas a indústria poderia estar rindo mais, atraindo investimentos e contratando mais.