Título: Vítimas do câmbio terão socorro
Autor: Abreu, Beatriz e Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2007, Economia, p. B6

O governo não vai mudar a política de câmbio flutuante, mas adotará medidas pontuais para amenizar os impactos da valorização do real ante o dólar em setores de contratação intensiva de mão-de-obra e com baixa capacidade de reação, como o calçadista, moveleiro e têxtil. As medidas serão de proteção cambial, como aumento da alíquota de importação, e de oferta de crédito para inovação tecnológica desses setores.

'O objetivo é adotar políticas específicas para setores com problemas específicos. Ninguém deve pensar que o governo adotará mecanismos para segurar a cotação cambial', disse uma fonte ao Estado.

Os estudos técnicos envolvem uma análise das medidas já adotadas e dos resultados conquistados. A avaliação não é satisfatória, porque a principal delas - a ampliação do prazo para internalizar os dólares obtidos com as exportações - não gerou o benefício esperado.

Esse diagnóstico foi apresentado ao presidente Lula, que não quer ver a questão discutida publicamente e tampouco por meio de 'bate-boca' pela imprensa, como aconteceu semana passada no episódio que resultou na demissão do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Júlio Sérgio Gomes de Almeida.

O governo já se prepara para enfrentar, no curto prazo, a possibilidade de o dólar romper a barreira psicológica de R$ 2,00.

Embora isso não vá alterar o cenário econômico, a expectativa é de um acirramento das críticas à política cambial, com o ingresso de agricultores.

'O debate é tenso e as pressões dos setores prejudicados são intensas', disse a mesma fonte. O objetivo do governo, no entanto, é ressaltar o quadro favorável da economia e cobrar uma posição mais pró-ativa dos empresários. Isso não significa que o governo ficará de braços cruzados assistindo à deterioração de setores econômicos, ou a desindustrialização, como denunciou Júlio Almeida. 'Apenas estamos conduzindo o debate com calma e sem emocionalismos', insistiu um assessor.

Os fatores que estão jogando a cotação do dólar para baixo não justificam, na avaliação das fontes, uma intervenção do governo. 'O real está valorizado por um conjunto de fatores', disse um assessor. 'O momento é bom. Não é ruim.' Novas medidas estão sendo avaliadas, mas a preocupação é não transformá-las numa 'poção mágica', capaz de resolver de uma vez o problema. Uma das avaliações é que o câmbio valorizado decorre dos juros ainda elevados, que estimulam a entrada de dólares de investidores interessados em ganhar com o diferencial das taxas internas e externas. O contraponto é que os juros já caíram sete pontos porcentuais e nem por isso o real se desvalorizou.

A tese de que uma queda mais brusca da taxa Selic provocaria uma desvalorização do real tem adeptos na equipe econômica. Mas prevalece a corrente que defende cautela. Isso não quer dizer que a pressão pela queda da Selic tenha perdido fôlego. Ao contrário. Na próxima semana, o Copom deve reduzir mais uma vez a taxa, que hoje é de 12,75% ao ano, apostam as fontes.

A atração que o Brasil exerce sobre os investidores está relacionada, também, à queda do risco país (158 pontos, ontem) e à elevada liquidez internacional. O ingresso de dólares também resulta do saldo comercial ( US$ 45,5 bilhões por ano). Se o governo optasse - o que não vai acontecer - por desvalorizar o real, o resultado seria aumento das exportações e do superávit. Resultado: nova enxurrada de dólares e um real valorizado.