Título: 'Tenho uma namorada imaginária'
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2007, Internacional, p. A11

Cho Seung-hui não tinha amigos. Seu companheiro de quarto, Andy, até tentou aproximar-se dele. Mas o estudante coreano era muito fechado. 'Primeiro, eu achei que ele era muito tímido', contou Andy (que não quis revelar seu sobrenome) à CNN. Ele passava o dia inteiro sozinho, ficava bastante tempo no computador.

Certa ocasião, Andy chamou Cho para ir a uma festa. Quando os dois ficaram um pouco bêbados Cho resolveu se abrir. 'Eu tenho uma namorada imaginária', disse a Andy. Segundo seu colega, Cho chamava sua namorada imaginária de Jelly - e ela o chamava de Spanky. O sul-coreano contou que ela era uma supermodelo. 'Depois da história da namorada imaginária, percebemos que ele era doido mesmo', disse Andy. Depois disso, ele presenciou a polícia do campus pedir para interrogar Cho, que estaria assediando duas meninas, em 2005.

Charlotte Peterson se lembra de Cho sentado na primeira fila nas aulas de literatura inglesa. A classe era pequena, e quase só tinha mulheres. 'Eu não me lembro de ter alguma conversa de verdade com Cho - ele não abria a boca', disse Charlotte ao Estado, em entrevista por e-mail. Segundo ela, o assassino nunca falava durante a aula e saía da classe quando estavam para começar os seminários. Todos lembravam dele como o 'ponto de interrogação', porque uma vez ele se apresentou como ?, em vez de escrever seu nome em uma cartaz, a pedido do professor.

'Eu não tinha medo dele. Era só um outro aluno quietinho na classe', disse Charlotte. Mas ela acha que a faculdade deveria ter feito alguma coisa quando ficou sabendo que ele estava assediando meninas e havia sido internado em uma instituição psiquiátrica.

'Não adianta só sugerir ao aluno que passe por aconselhamento psicológico, eles deveriam ter entrado em contato com os pais do Cho', disse Charlotte. 'Acho que os pais não tinham a menor idéia de que o filho deles era esquisito e escrevia redações que estavam preocupando os professores. Se a universidade tivesse levado esses indícios mais a sério, talvez a matança não teria acontecido.' Charlotte não estuda mais na Virginia Tech e não conhece ninguém que tenha sido vítima de seu colega de classe.