Título: Armas serão tema de campanha
Autor: Woodward, Calvin
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2007, Internacional, p. A13

O tema do controle de armas tem sido tratado com uma mistura de silêncio e desconforto na campanha para a eleição presidencial de 2008 nos EUA. Após o massacre de segunda-feira na cidade de Blacksburg, os candidatos cancelaram eventos e expressaram apenas tristeza, não opiniões, nas primeiras horas. No entanto, o tiroteio mais sangrento da história moderna dos EUA sem dúvida motivará um debate que os aspirantes à presidência dificilmente poderão ignorar nos próximos dias e semanas.

Os democratas evitam deliberadamente há meses uma questão que, segundo sua própria avaliação, contribuiu para a derrota do partido na eleição presidencial de 2000. Foi quando a defesa de Al Gore pelo registro de armas lhe custou votos na zona rural e tirou o ânimo dos democratas para enfrentar o lobby das armas. Já os principais candidatos republicanos tentam cerrar fileiras com a base conservadora do partido em vários temas, o que torna o controle de armas delicado também para eles, graças a suas visões liberais no passado.

O republicano Rudy Giuliani abordou o assunto timidamente ontem, um dia depois de o rival John McCain ter afirmado que o ataque não abalaria seu apoio ao direito constitucional de porte de armas. 'Obviamente, a tragédia não altera a Segunda Emenda (da Constituição)', disse Giuliani em comunicado. 'As pessoas têm direito de possuir e portar armas e a Constituição diz que esse direito não será violado.'

Sua ênfase em soluções estaduais para o controle de armas, durante as eleições primárias republicanas, contrasta com sua antiga defesa de obrigação federal de registro de proprietários de pistolas - uma exigência ainda mais rígida que o registro de armas.

Quando era prefeito de Nova York (1994-2001), Giuliani apoiou a proibição federal de armas de assalto, a checagem de antecedentes na compra de armas e outras restrições criticadas por defensores dos direitos de posse. A outra nova-iorquina na disputa presidencial, a senadora democrata Hillary Rodham Clinton, também apresentou em 2000 propostas para licenças de armas com foto e para um registro nacional de venda de pistolas.

Nesta campanha, os candidatos de ambos os partidos que já caçaram animais exibem rapidamente suas credenciais de caça. Outros reforçam sua lealdade ao direito constitucional de portar armas ou então simplesmente evitam o tema. Agora, essas questões são inevitáveis.

'Não falar sobre um tema pode ser uma estratégia bem-sucedida a curto prazo, mas nunca a longo prazo', disse James Kessler, especialista em políticas e controle de armas do grupo democrata centrista Terceira Via. 'Desta vez, não creio que um candidato será punido por apoiar medidas de segurança envolvendo armas.' Mas ele disse ter acreditado que após o massacre de 15 pessoas na Escola Columbine, no Colorado, em 1999, os congressistas aprovariam uma lei exigindo checagens de antecedentes na compra de armas em feiras especializadas. 'Não aprovamos', afirmou Kessler.

Massacres a tiros freqüentemente motivam iniciativas de controle de armas no Congresso. Os resultados variam. Agora que os democratas controlam o Congresso com a ajuda de novos membros de regiões rurais, poucos parlamentares esperam que o ataque na Virgínia ressuscite propostas mais restritivas que no passado, como o registro ou o licenciamento nacionais.

Após a tragédia em Columbine, congressistas apresentaram sem sucesso dezenas de projetos de lei para exigir travas de segurança específicas para crianças nas pistolas novas e banir as armas pequenas e baratas que, segundo as autoridades, eram usadas em vários crimes. Os parlamentares também tentaram elevar a idade mínima para a compra de armas e exigir checagens de antecedentes na compra em feiras.

Um mês depois do ataque em Columbine, o então vice-presidente Al Gore deu o voto de Minerva no Senado para aprovar um projeto de lei sobre criminalidade juvenil que incluía restrições a feiras de armas. Mas o projeto foi cancelado em negociações com a Casa Branca. McCain tem um longo histórico de votos a favor dos direitos de posse de armas no Senado, mas mudou algumas opiniões, patrocinando projetos para apoiar restrições a feiras, que anteriormente combateu.

O candidato democrata John Edwards, apesar de ter dado destaque recentemente à caça de pássaros, coelhos e veados em sua infância e ter defendido o direito de possuir armas, apoiou no Senado as principais medidas de controle de armas de seu partido. Quando era parlamentar estadual nos anos 90, o candidato Barack Obama defendeu a proibição de armas semi-automáticas e restrições mais severas às armas de fogo.

O controle de armas parecia distante das preocupações dos eleitores antes do massacre de segunda-feira. Numa pesquisa AP-Ipsos sobre qual seria o problema mais importante do país, poucas pessoas mencionaram armas ou o controle de armas. Isso provavelmente vai mudar em reação à tragédia de Blacksburg.

O sul-coreano Cho Seung-hui tinha residência permanente nos EUA, o que significa que ele podia comprar legalmente uma pistola, desde que não tivesse sido condenado por algum crime. 'Quando um rapaz mata 32 pessoas há muita discussão sobre políticas. Mas agora não é hora de debates. Antes, precisamos ter realmente certeza do que aconteceu e ajudar as pessoas a superar essa crise', afirmou o presidente americano, George W. Bush.