Título: Disputa na Justiça não deve terminar logo, acredita ministro
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2007, Vida&, p. A16

A ONG ambientalista Greenpeace divulgou ontem um prêmio bem-humorado: o de ¿Homem do Ano da Bio Insegurança¿. O escolhido foi o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende. Em entrevista ao Estado, após saber da ¿premiação¿, ele afirmou que o movimento contra transgênicos que se instalou no País tem idealistas e pessoas desinformadas, mas também oportunistas. ¿Eles se beneficiam com a estagnação. Enquanto o Brasil tem apenas uma espécie liberada, o uso de sementes ilegais, pirateadas, prolifera¿, afirmou. Rezende admitiu que a queda-de-braço na Justiça, instalada entre ambientalistas e seu ministério, não deverá terminar a curto prazo, mas disse confiar que, com o tempo e com o maior fluxo de informações, todos compreenderão que transgênicos não são uma ameaça. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Que achou de ter sido escolhido o ¿Homem da Bio Insegurança¿?

Tem um grupo radical de ambientalistas que deseja impedir a todo custo a votação da liberação comercial de uma nova semente transgênica. Essas pessoas radicais não querem discutir, mas tumultuar.

É contra a abertura das sessões da CTNBio para o público?

Sou. A comissão tem um cunho técnico e a lei diz que tem de ser formada por cientistas. Há anos não tínhamos uma decisão sobre transgênico no País. Para superar as dificuldades, uma lei nova, avançada, foi feita. A CTNBio foi reformulada e agora, às vésperas de nova votação, a confusão se instala.

Como classifica esse movimento?

É movido por uma minoria, norteada por uma posição dogmática. Reagem como a população do Rio em 1910, quando Oswaldo Cruz propôs a vacinação contra febre amarela. Mas pergunte a eles quem hoje não se beneficia com remédios desenvolvidos com base na tecnologia. Há falta de informação, mas também há um grupo de oportunistas. Enquanto sementes transgênicas não são liberadas, o mercado pirata prolifera.

O governo não deve dizer mais claramente a política que quer para transgênicos?

Isso já foi feito quando o presidente Lula sancionou a mudança de quórum da CTNBio. A Advocacia-Geral da União esgotará todos os recursos para garantir a tranqüilidade da CTNBio e para que votações possam ser realizadas.

Há alguma perspectiva de essa batalha jurídica arrefecer?

O governo enfrenta isso não só com transgênicos, mas com usinas hidrelétricas, obras da transposição do Rio São Francisco. Faz parte de um governo democrático. Acho que, com o tempo, o quadro vai ser mais favorável à ciência.

A procuradora da República Ana Mantovani afirma que todas as comissões são abertas, e isso deveria valer para a CTNBio.

Não é nosso entendimento. Comissões técnicas não têm ninguém palpitando. Veja se há alguém no Comitê de Política Monetária.