Título: Lula rejeita escolha de Jorge e Coutinho vai para o BNDES
Autor: Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2007, Economia, p. B1

Por decisão pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o economista Luciano Coutinho irá substituir Demian Fiocca na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A escolha de Coutinho demonstra que o presidente não abriu mão de interferir no BNDES e infligiu uma derrota ao recém-empossado ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge. Ele brigava pela nomeação de Gustavo Murgel, ex-executivo do Banco Santander. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendia a manutenção de Fiocca no cargo, mas é afinado com a linha econômica de Coutinho.

Miguel Jorge e Coutinho estiveram ontem à tarde com o presidente, no Palácio do Planalto, por cerca de uma hora. O porta-voz da Presidência da República, Marcelo Baumbach, disse que o convite a Coutinho foi oficializado ontem e que a transmissão de cargo ocorrerá 'oportunamente' na sede do BNDES.

Baumbach informou ainda que Fiocca poderá ser nomeado para outro cargo no governo. Ele é cotado para ser secretário do Tesouro Nacional, desalojando Tarcísio Godoy, que desde o fim do ano passado ocupa interinamente o cargo.

'O presidente julga que Fiocca ainda pode contribuir com o governo por ser um excelente quadro. No entanto, não está ainda definido o seu aproveitamento em outro cargo', afirmou o porta-voz. Ele disse que Lula considera que Fiocca realizou um excelente trabalho à frente do BNDES, consolidando-o como um banco de desenvolvimento.

Ao assumir o cargo, há cerca de 20 dias, Miguel Jorge garantiu que teria autonomia para decidir sobre a direção do banco e, praticamente, demitiu Fiocca pela imprensa. As declarações do ministro levaram um grupo de governistas, como Mantega e o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), a trabalhar internamente pela permanência de Fiocca. Miguel Jorge afirmou, em vários momentos, que sua preferência era por Gustavo Murgel, com quem trabalhou no Banco Santander.

Mas também nunca descartou Coutinho, sinalizando que poderia prevalecer a vontade de Lula. A nomeação de Coutinho, no entanto, é uma derrota parcial para o ministro, que, como seu antecessor, Luiz Fernando Furlan, não conseguiu fazer o presidente do BNDES, o principal órgão vinculado ao ministério.

SANTANDER EM EXCESSO

A indicação de Murgel não foi bem recebida por Lula, por ser um homem do mercado financeiro. O presidente manifestou o desejo de ter um 'desenvolvimentista' na direção do BNDES, perfil que o governo considera ser preenchido por Coutinho. Ele, no entanto, também tem experiência no mercado financeiro, embora tenha formação em política industrial.

Atualmente, é sócio-diretor da LCA Consultores, que presta consultoria econômica, e professor do departamento de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), com especialização em economia industrial e internacional. Foi também secretário-executivo do Ministério de Ciência e Tecnologia no governo Sarney.

Sem querer, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, criou dificuldades à indicação de Miguel Jorge. Ele também foi buscar nos quadros do Banco Santander o novo diretor de política monetária do BC, Mário Torós. Lula não gostou quando percebeu que seu governo teria três quadros oriundos da mesma instituição.