Título: Por 4 a 3, Copom reduz juro em 0,25
Autor: Pereira, Renée e Freire, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2007, Economia, p. B4

O Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu o mercado financeiro ontem ao anunciar o corte de 0,25 ponto porcentual da taxa básica de juros (Selic), para 12,5% ao ano, sem unanimidade dos dirigentes do Banco Central (BC). De acordo com a nota divulgada após a reunião, a decisão foi apertada, por apenas um ponto de diferença. Quatro diretores votaram a favor de 0,25 ponto porcentual e três, de 0,5 ponto.

O placar foi rapidamente interpretado pelos analistas como um sinal de que a autoridade monetária poderá retomar o corte de 0,5 ponto porcentual a partir da reunião de junho. No comunicado após o encontro, o BC repetiu a frase da reunião passada e justificou a decisão pelas avaliações do cenário macroeconômico e perspectivas para a inflação. 'A decisão, sem unanimidade, abre a porta para um corte de 0,5 ponto nas próximas reuniões', argumenta o economista do Banco Modal, Alexandre Póvoa.

Na opinião dele, houve um erro, ou um excesso de cautela, no início do ano quando o BC decidiu desacelerar a queda da Selic. 'O placar de hoje (ontem) demonstra que isso está sendo reconhecido agora. O mercado volta a ter esperança de que os cortes serão elevados.' Póvoa afirma que os dados da economia brasileira respaldam um corte maior dos juros.

O economista do Santander Banespa, Maurício Molan, também avaliou a decisão do Copom como longe de ser esperada. 'A visão era de que o BC continuaria reduzindo a Selic em 0,25 ponto. Mas ele sinalizou que pode voltar para 0,5 ponto', afirmou ele. O que pode atrapalhar essa retomada são os dados de atividade econômica mais forte e que serão divulgados nas próximas semanas. 'Na reunião de ontem, no entanto, o que percebemos é que os dirigentes deram mais importância aos dados correntes de inflação do que ao balanço de oferta e demanda.'

Para o economista da López Leon, Flávio Serrano, se o cenário de inflação continuar confortável e a atividade não representar perigo, uma redução maior na Selic será bastante discutida a partir de agora. Segundo ele, um corte maior dos juros só era cogitado nas mesas mais otimistas do mercado, mesmo assim apenas a partir do segundo semestre.

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O corte de ontem foi o 15º consecutivo, num dos maiores ciclos de queda da taxa Selic - que atingiu o menor patamar desde 1974. Desde setembro de 2005, o Copom já reduziu os juros em 7,25 pontos porcentuais. Apesar do longo período de corte, o País continua na terceira posição dos maiores juros nominais do mundo, perdendo apenas para Turquia (17,5%) e Venezuela (15,3%), segundo a consultoria UpTrend. Já no quesito juro real (descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses), o Brasil é líder absoluto e está longe de perder a posição. Com o corte de 0,25 ponto ontem, taxa real brasileira foi para 8,5% ao ano.