Título: Um Brasil pequeno no mundo
Autor: Tamer, Alberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2007, Economia, p. B10

Nos últimos dias, saíram dois relatórios importantes tomando o pulso da economia e do comércio mundial, o do Fundo Monetário Internacional (FMI), com previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), e o da Organização Mundial de Saúde (OMC), sobre os cenários para o comércio mundial. São muitos números, comparações, valores, porcentagens, que, certamente, devem ter cansado o leitor.

A coluna vai tentar resumi-los, citando um mínimo de números e analisando apenas as tendências. Alguns dados são necessários, mas a coluna os usará com parcimônia. Assim, o leitor ficará informado de tudo, sem ter de perder-se num emaranhado de estatísticas. Vamos lá.

Nos dois relatórios registra-se que a participação do Brasil no PIB e no comércio mundial é pequena. A diferença é que, enquanto avançamos no PIB, com um crescimento previsto pelo FMI de 4,4%, estagnamos em relação ao comércio internacional. Crescemos, sim, mas de forma insignificante na comparação com outros países, até mesmo os emergentes. E não estamos falando do gigantismo da China, mas da Rússia e da Índia, com os quais formamos o bloco conhecido como Bric, os países que, segundo a Goldman Sachs, vão liderar a economia mundial dentro de algumas décadas. Temos a nossa participação em risco nesse bloco.

FMI OTIMISTA...

O FMI vê o Brasil no bom caminho, mas assinala as restrições ao crescimento - juro, câmbio, impostos, infra-estrutura, burocracia, gastos excessivos do governo (11% do PIB), tudo culminando num limitado investimento nacional ou estrangeiro. O Brasil tem muito para crescer, mas precisa livrar-se desses obstáculos, o que o governo Lula poderia fazer neste início do segundo mandato. Há, ainda, o baixo nível educacional. São grandes desafios, que estão contendo uma economia com grande possibilidade de deslanchar, pois pôs em ordem as finanças públicas e realizou, desde o governo Fernando Henrique, a façanha de derrubar a inflação sem ter sido preciso cair na recessão. Poucos países atingidos pela hiperinflação conseguiram isso, mesmo às custas de uma política cambial eficaz a curto prazo, mas desastrosa ao longo do tempo. E - não é o FMI, mas a coluna que registra - parece que estamos repetindo o mesmo erro com a valorização excessiva do real contendo as exportações e permitindo que produtos antes produzidos no Brasil sejam desalojados do mercado por estrangeiros. Há empresários importando até fábricas completas e componentes não mais possível de serem produzidos economicamente no Brasil.

...OMC, NÃO

A OMC apresenta dados e tendências mais conservadores. E, no fundo, os dois relatórios chegam à mesma conclusão: o Brasil tem grande potencial para desenvolver-se, mas hesita em afastar os entraves.

Com relação ao comércio, estagnamos quando comparados com outros países que realizam uma forte política de exportação com câmbio adequado, competitividade ajudada por essas mesmas taxas cambiais e extrema agressividade na colocação de seus produtos. O Brasil recuou da 23ª para a 24ª posição num mercado mundial de US$ 12,7 trilhões. Mesmo tendo aumentado suas importações, isso se perde quando em comparação com países como a China, a Rússia e a Índia. As exportações brasileiras têm aumentado em valor, menos, porém, que as de outros países e devido à elevação dos preços das matérias-primas, principalmente minerais, combustíveis e agrícolas.Ocupamos o segundo lugar nas vendas externas de oleaginosas e de carne, o terceiro em fibras e lideramos as exportações de açúcar. Pouco importamos dos produtos agrícolas.

Os técnicos da OMC assinalam que o álcool não entrou em suas avaliações porque é um produto novo que não pode ainda ser classificado como commodity. Mas, certamente, entrará na avaliação do segundo semestre ou no próximo ano. É mais uma oportunidade excepcional para o Brasil, que está sabendo aproveitar investindo pesadamente no plantio de cana e na produção.

É TUDO

E aí está, leitor, tudo o que o FMI e a OMC disseram a respeito do comportamento da economia e do comércio mundial e a posição do Brasil em seu contexto. Poderíamos reduzir em apenas uma frase o que as dezenas de técnicos dizem a nosso respeito. O Brasil começou e vai bem, tem grande potencial para crescer fortemente, mas enfrenta sérios obstáculos, que hesita ainda em superar.

UMA ANÁLISE INDISPENSÁVEL

A edição desta semana da revista britânica The Economist apresenta a melhor e mais imparcial análise do Brasil nos governos Fernando Henrique e Lula. O autor foi felicíssimo em todas as suas colocações, mostrando o progresso feito pelos dois governos e apontando os pontos fracos da economia e da política brasileira ainda por atacar. É uma análise que deveria circular no Palácio do Planalto e nos ministérios. Um documento absolutamente indispensável.