Título: MST libera e depreda pedágios no Paraná
Autor: Fadel, Evandro e Batista, Ernesto
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2007, Nacional, p. A4

Os sem-terra acirraram ainda mais ontem a escalada do 'abril vermelho' e ampliaram suas ações em todo o País para marcar o aniversário do massacre de Eldorado dos Carajás. O Movimento dos Sem-Terra (MST) e outras organizações de luta agrária promoveram o bloqueio de estradas, tomaram praças de pedágio e realizaram protestos e novas invasões de terras em 11 Estados. Tudo para cobrar pressa na reforma agrária e punição para os responsáveis pela chacina que deixou 19 sem-terra mortos no Pará há 11 anos.

A ação mais ousada ocorreu no Paraná. O MST mobilizou cerca de 3 mil integrantes para tomar 25 das 27 praças de pedágio espalhadas pelas rodovias do Estado e liberar a passagem dos veículos sem pagamento das taxas. 'Os pedágios são hoje um dos principais entraves para a pequena agricultura', justificou o MST, em nota. Em alguns postos de pedágio, foram cortados cabos telefônicos e das câmeras de segurança. Os sem-terra prometem manter o protesto até a tarde de hoje.

Em outra ação de impacto, militantes do MST bloquearam o trânsito em dois trechos da Rodovia Presidente Dutra, principal ligação entre São Paulo e Rio. A estrada foi interditada pela manhã por uma hora entre o km 153 e o km 155, na região do Vale do Paraíba, por cerca de 3 mil manifestantes, durante mais de uma hora, provocando congestionamento de 5 quilômetros. Já no Estado do Rio, 50 sem-terra interromperam o trânsito na Dutra, na altura do km 242, em Piraí, por meia hora, causando engarrafamento de 3 quilômetros. Outra importante rodovia do Rio, a BR-101 foi fechada por cerca de 300 sem-terra, durante quase duas horas, na altura de Campos.

O bloqueio de estradas também foi uma das principais formas de protesto dos sem-terra no Rio Grande do Sul. O MST fechou nove rodovias do Estado, em períodos alternados. Segundo o MST, cerca de 2.400 pessoas participaram das ações. Em São Gabriel, um grupo interrompeu o tráfego na BR-290 por 19 minutos, dedicando um minuto para cada morto de Eldorado dos Carajás.

Em São Paulo, além da Via Dutra, também a Rodovia Raposo Tavares (SP-270) foi bloqueada por 180 manifestantes, na altura do km 172, em Itapetininga. O protesto durou 30 minutos, tempo suficiente para formar um congestionamento de dois quilômetros.

As ações do MST paulista também incluíram o reforço da ocupação da Fazenda São Luiz, em Presidente Bernardes, no Pontal do Paranapanema. Os militantes que tinham se alojado na sede do Incra em Teodoro Sampaio e acampado diante dos escritórios regionais do Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) rumaram para a fazenda, ampliando de 100 para mais de 300 o número de invasores. 'Daqui, vamos sair para outras ocupações', disse o coordenador regional Valmir Ulisses Sebastião. Segundo ele, o 'abril vermelho' na região 'está apenas começando'.

Ainda em São Paulo, 150 militantes do MST ocuparam ontem a Fazenda Cataco, em Ubarana, região de São José do Rio Preto. Segundo a Polícia Militar, os sem-terra invadiram as casas dos empregados, um depósito de combustível e a garagem de equipamentos agrícolas, danificando três tratores.

MORTES

No Maranhão, a onda de ocupações resultou na morte de duas pessoas esta semana. Em Arame, a 600 quilômetros de São Luís, índios guajajaras interditaram um trecho da MA-006 para reclamar da assistência médica. Moradores e comerciantes da cidade reagiram e atacaram os índios. Dois guajajaras morreram e outras três pessoas ficaram feridas no confronto. Ontem houve manifestação de sem-terra em São Luís.

Cerca de 1.500 integrantes do MST participaram de marcha em Aracaju e acamparam na sede do Incra de Sergipe. Em Alagoas, sem-terra anunciaram já ter invadido esta semana 12 fazendas no interior do Estado. Ontem fizeram passeata em União dos Palmares.

O MST de Pernambuco promoveu cinco novas ocupações ontem. Cerca de 800 famílias participaram das ações, três delas na zona da mata do Estado e outras duas no sertão. Com essa ofensiva o movimento já soma 14 invasões no Estado só neste mês.

Vinte dos cerca de 5 mil manifestantes do MST que estão acampados em Salvador tiveram audiência com o governador Jaques Wagner e colheram algumas promessas. À noite, começaram a voltar para as regiões do Estado de onde vieram.

Em Minas, cerca de 200 integrantes do movimento invadiram uma fazenda em Campos Gerais, no sul do Estado. Em Capitão Enéas, no norte de Minas, outra propriedade foi ocupada por cerca de 80 famílias.