Título: Campus vive dia de dor e homenagem
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2007, Internacional, p. A11

O ginásio Cassel Coliseum já foi palco de muitas alegrias para os estudantes da Virginia Tech, que vibraram com as recentes vitórias do time de basquete da universidade. Mas ontem, as 10 mil pessoas reunidas no local estavam cabisbaixas e choravam pela morte de 33 de seus irmãos hokies - como são chamados os atletas e estudantes da Virginia Tech. Quase todos vestiam camisetas laranja e bordô, cores da universidade, e muitos escreveram VT na bochecha. Tantas pessoas quiseram participar da cerimônia em homenagem aos estudantes mortos, que o ginásio lotou e a universidade precisou instalar um telão no estádio ao lado.

'Membros inocentes da família Virginia Tech foram mortos - uma tragédia global como essa nunca aconteceu em uma universidade', discursava, com voz embargada, Zenobia Hikes, vice-presidente da universidade para assuntos estudantis. 'Vamos nos recuperar um dia, mas nunca nos esqueceremos.'

O governador da Virginia, Timothy Kaine, voltou correndo de uma viagem ao Japão. Enquanto falava, uma lágrima escorria por sua bochecha. 'Este é o momento mais sombrio da história desta universidade.' O presidente George W. Bush, em meio à batalha pelo financiamento da guerra do Iraque, voou da Casa Branca para consolar alunos e parentes dos alunos mortos. 'Que Deus os abençoe', encerrou Bush, com sua frase característica.

O massacre transformou o enorme campus da Virginia Tech. Os prédios neo-medievais da universidade pareciam ainda mais lúgubres, estudantes andam de um lado para o outro, desorientados, e centenas de caminhões de TVs ocuparam um dos gramados. Um memorial improvisado foi montado - um cartaz de quase 2 metros, onde se lia: 'VT - Para todos os Hokies que se foram'.

Perto dali, várias homenagens. Uma livraria pendurou uma placa: 'A nação chora'. Psicólogos com crachás caminhavam pelo campus, oferecendo ajuda a estudantes em crise e guias para lidar com a tragédia. Padres e pastores também circulavam pelo local.

Dois alunos, Jonathan Worrell e J.T. Wilkinson, criaram um site, , para ajudar parentes de vítimas e feridos no massacre.

Na pequena cidade de Blacksburg - de 40 mil habitantes, onde não é preciso trancar a porta de casa e muitos deixam o carro aberto - a insegurança é uma novidade . 'Não vou voltar para o meu país, mas estou assustado', disse Roshan Nande, um indiano de 18 anos que estuda engenharia mecânica. Nande mora no dormitório ao lado do West Ambler Johnston, onde foram mortos os dois primeiros e alunos. Mas não ouviu os tiros. 'Saí de lá as 8 horas e fui para uma aula de matemática - só na volta, um hora depois, é que vi um monte de policiais e fiquei sabendo. Estou muito bravo, deveriam ter nos avisado antes.'

O brasileiro Mário Leonel, de 22 anos, estava a 150 metros do prédio de salas de aula onde foram mortas 30 pessoas - ele viu um monte de gente gritando e muitos policiais. Ele e sua namorada, Deise Galan, saíram correndo. Mário não conhece ninguém que morreu, mas um amigo levou um tiro na mão. A universidade decidiu fechar o prédio, o Norris Hall, por seis meses. As aulas foram canceladas a semana toda. E os festejados times da universidade não vão jogar por um bom tempo.

John Markell, dono da Roanoke Firearms, que vendeu a Cho uma das armas que ele usou no massacre, estava transtornado. 'Já vendi 160 mil armas na vida, e destas, apenas meia dúzia foi usada em homicídios ou suicídios', disse a um jornal local. 'Já é horrível assistir ao noticiário e ver o que ele fez, mas é pior ainda descobrir que ele comprou as armas aqui.'

À noite, milhares de estudantes foram para o principal gramado do campus e acenderam velas para homenagear colegas e professores mortos. 'Acabaram as velas em todas as lojas da cidade, por isso trouxe estas que tínhamos estocadas, para distribuir a quem quiser participar da vigília', dizia Kidd Carter, 28 anos, radialista que mora na região e tem amigos na Virginia Tech.

Muitas das pessoas se preparavam para vestir suas camisetas dos hokies na vigília. '10% de sorte , 20% de habilidade, 15% de força de vontade, 5% de prazer e 50% de dor - ou seja, 100% de motivos para lembrar dos Hokies' - eram os dizeres das camisetas de muitos dos alunos. Ontem, a lembrança dos hokies só trazia 100% de dor.

FRASE:

Timothy Kaine Governador da Virgínia 'É o momento mais sombrio da história desta universidade'

Zenobia Hikes Porta-voz dos alunos 'Vamos nos recuperar, mas nunca nos esqueceremos'.