Título: Por que eles matam
Autor: Fox, James Alan
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2007, Internacional, p. A11
O assassinato em massa certamente não foi inventado em 1966, com o massacre na torre - quando Charles Whitman, um estudante do campus de Austin da Universidade do Texas, subiu em uma torre de 27 andares e matou 14 pessoas e feriu 31 antes de ser morto a tiros pela polícia. Mas o ano de 1966 marcou uma virada dramática.
Depois do massacre de Austin, o número de incidentes começou a aumentar. Os assassinatos em massa (especialmente a tiros) tornaram-se cada vez mais comuns e o saldo de mortos também começou a crescer. Sete dois oito maiores assassinatos em massa da história dos EUA ocorreram nos últimos 25 anos.
A chacina de segunda-feira pode ter sido a pior, mas foi apenas um dos cerca de 20 massacres a tiros que ocorrem a cada ano nos EUA (um subgrupo das duas dúzias de assassinatos em massa). Um assassinato em massa é definido quando quatro ou mais pessoas são mortas no mesmo episódio. Os assassinatos em série, por sua vez, ocorrem num longo período de tempo.
Qual a causa do aumento? É possível que o homem tenha simplesmente se tornado mais perverso e sanguinário depois de 1966 ? É claro que não. Mas ocorreram várias mudanças que tornaram esses incidentes mais comuns. Uma delas é a mudança da potência dos armamentos. Antes de 1966, as melhores armas disponíveis eram pistolas, carabinas e talvez uma espingarda. Hoje, é bem fácil o acesso a armas semi-automáticas.
Mas também ocorreram mudanças sociais que aumentaram a incidência do assassinato em massa. Estudando o tema ao longo de 25 anos, meu colega Jack Levin e eu identificamos cinco fatores presentes em praticamente todos os casos.
Primeiro, os perpetradores têm um longo histórico de frustração e fracasso e uma capacidade reduzida de enfrentar as decepções da vida.
Segundo, eles culpam fatores externos, freqüentemente reclamando que os outros não lhes deram uma chance. Às vezes eles argumentam que seu grupo étnico, racial ou de gênero não está recebendo as mesmas oportunidades que outros .
Em terceiro lugar, esses assassinos geralmente carecem de apoio emocional de amigos ou parentes. Vocês já leram a frase 'ele sempre pareceu um pouco solitário'? Isso tem algum fundamento real.
O quarto fator é que eles geralmente sofrem um evento desencadeador que consideram catastrófico: a perda do emprego ou o rompimento de uma relação, por exemplo. Em massacres em universidades, muitas vezes o atirador acha que não mereceu uma nota recebida.
Em quinto lugar, eles precisam ter acesso a uma arma poderosa o bastante para atender a sua necessidade de vingança.
Assim, o que mudou? Em primeiro lugar, a competição cruel cresceu nos últimos anos nos EUA. Admiramos quem vence a qualquer custo. E parecemos ter menos compaixão pelos que fracassam. Isso certamente aumenta a frustração dos perdedores.
E há o eclipse da comunidade tradicional: índices de divórcio mais altos, o declínio das práticas religiosas e o fato de que mais pessoas vivem em áreas urbanas, onde talvez nem conheçam seus vizinhos. Se os assassinos em massa são pessoas isoladas que carecem de apoio, essas tendências só exacerbam a situação.
Começamos a entender as motivações por trás de incidentes que, para muitos, não têm sentido. Mas isso não significa que podemos evitá-los. Não vamos - e não devemos - transformar nossas universidades em fortalezas. Esses eventos, felizmente raros, são um dos preços que pagamos pelo tipo de sociedade aberta e democrática em que vivemos.