Título: Ataque reacende debate sobre controle de armas
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2007, Internacional, p. A12

A chacina da universidade Virginia Tech reacendeu um debate que de tempos em tempos pega fogo nos EUA: a necessidade de ampliar os controles sobre a aquisição e porte de armas no país. Os que são contra o controle - grupo que inclui a poderosa National Rifle Association - lembram que a Segunda Emenda da Constituição americana assegura 'o direito de o cidadão comum manter e portar armas'. Os que são a favor têm agora um novo argumento: o sul-coreano Cho Seung-hui, residente permanente nos EUA, exerceu esse direito entrando há cinco semanas numa loja de armas devidamente licenciada e sacando seu cartão de crédito para comprar, por US$ 571, uma das armas com as quais matou 32 pessoas na Virginia Tech.

'No Estado da Virgínia é particularmente fácil comprar uma arma. Os vendedores muitas vezes nem verificam os antecedentes criminais dos compradores', disse ao Estado, por telefone, Ladd Everitt, da ONG Coalition to Stop Gun Violence (coalizão para pôr fim à violência das armas). Everitt explica que 30% do armamento apreendido em Washington D.C., onde o controle é mais estrito, vêm da Virgínia. 'Não há como negar que o culto às armas na sociedade americana e a facilidade com a qual um cidadão pode adquirir uma pistola semi-automática estão entre os fatores que fazem com que esse tipo de incidente seja mais freqüente em nosso país do que em qualquer outro lugar do mundo.'

O psiquiatra americano Frank Ochberg, que estuda essas chacinas nos EUA desde 1968, concorda. 'A violência faz parte da natureza humana - tanto que assassinatos e suicídios sempre ocorreram', afirmou Ochberg ao Estado. 'Hoje, porém, aqueles que querem matar e ferir outras pessoas têm a sua disposição armas muito mais potentes - e o estrago pode ser maior.' Uma das armas usadas por Cho, a Glock 9mm, pode disparar 33 tiros sem precisar ser recarregada. A outra, uma pistola .22, dá até 20 tiros de uma vez. 'É possível que Cho tivesse conseguido armas potentes de forma ilegal se a venda fosse proibida nos EUA, mas ao menos teria um obstáculo a mais', diz.

O presidente George W. Bush, um dos defensores do direito de os cidadãos portarem armas, preferiu não entrar no debate, mas o senador John McCain, pré-candidato republicano à Casa Branca manteve-se firme na defesa da Segunda Emenda: 'Só precisamos nos certificar de que essas armas não caiam nas mãos de pessoas erradas', disse - sem explicar como fazer isso.

Frank Ochberg Psiquiatra americano

'A violência faz parte da natureza humana, tanto que assassinatos e suicídios sempre ocorreram. Mas hoje as pessoas têm à disposição armas muito mais potentes e o estrago é maior'.