Título: Mandioquinha e fubá no cardápio de Bento
Autor: Westin, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2007, Vida&, p. A16

Os monges beneditinos estão empenhados em mostrar que darão todo o aconchego possível ao papa Bento XVI, que ficará dois dias hospedado no Mosteiro de São Bento, em São Paulo. Ontem mostraram como serão as refeições e revelaram que o papa terá conexão sem fio à internet de qualquer lugar do prédio. Mas demonstraram preocupação com a possibilidade de o sossego de Bento ser ameaçado pela linha do metrô que passa debaixo do mosteiro.

O papa não conseguirá ter silêncio absoluto para orar e meditar das 4h40 às 00h32, o horário de funcionamento da estação São Bento. Por causa dos vagões, a cada três minutos o mosteiro sofre um leve tremor de dez segundos. O ruído dos trens pode ser ouvido ao longe.

Em busca de uma solução, os monges procuraram a Companhia do Metropolitano de São Paulo em janeiro, um mês depois de saberem que receberiam o papa. Engenheiros e técnicos visitaram duas vezes o quarto onde Bento dormirá e afirmaram que os níveis de trepidação e ruído estão dentro dos limites aceitáveis. Nada, portanto, poderia ser feito.

'Pedimos a ajuda do Metrô, mas não obtivemos resposta', queixou-se ontem o prior do Mosteiro de São Bento, João Evangelista Kovas.

Pouco antes, o abade Matthias Tolentino Braga havia explicado o motivo de o mosteiro ter sido escolhido pelo Vaticano: 'Aqui é um lugar de oração, de meditação, de silêncio'.

Procurado pelo Estado, o Metrô afirmou que uma equipe voltará ao mosteiro logo após a visita do papa. A hipótese de alterações no horário de funcionamento da estação São Bento foi descartada. Cerca de 70 mil pessoas entram por dia na estação, que tem uma saída para a movimentada Rua 25 de Março.

Na entrevista de ontem, os monges mostraram que, enquanto estiver no mosteiro, o papa terá refeições sem condimentos e com um toque brasileiro. O cardápio incluirá sopa de palmito, nhoque de mandioquinha e bolo de fubá. A única recomendação do Vaticano é que não se sirvam frutos do mar nem cogumelos. Os beneditinos prometeram que o papa não terá nenhuma 'experiência gastronômica'.

Serão servidos vinhos sul-americanos - um deles, chileno, custará, R$ 348. Pela força simbólica, a bebida brasileira virá de uma região pobre do Nordeste - a vinícola fica em Caruaru, no agreste de Pernambuco. O papa não bebe álcool, mas abrirá uma exceção para provar os vinhos.

Também pelo simbolismo, as sobremesas serão feitas por Emília Matias Serafim, que tem 79 anos e há seis décadas é cozinheira de uma sobrinha-neta do frei Galvão - que será canonizado pelo papa em São Paulo.

Bento XVI chega ao Brasil no dia 9 de maio e volta para o Vaticano no dia 13. Ficará apenas em São Paulo e Aparecida.

DESLIZE PAPAL

Um jornalista italiano mostrou ontem que o papa cometeu um erro em Jesus de Nazaré, seu livro recém-lançado. Na página 410, identificou John Meier como membro da ordem dos jesuítas. Meier não é jesuíta, mas padre em Nova York. 'O papa não é infalível', escreveu o jornalista especializado em religião Sandro Magister, no blog Settimo Cielo.