Título: Na escolinha do professor Chávez
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2007, Economia, p. B1

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, adotou ontem o papel de docente em sua tentativa de convencer os chefes de Estado sul-americanos a aderir a um modelo de integração energética focado nos interesses venezuelanos. Ao abrir a reunião de cúpula, determinou a distribuição de uma cartilha dividida em cinco tópicos - petróleo, gás, energia alternativa e economia de energia - a cada um dos colegas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apertou a vista para enxergar em um telão o resumo das idéias de Chávez.

Para a área de gás, Chávez colocou como foco inicial a exploração no projeto Delta-Caribe, no norte da Venezuela - uma imensa reserva, praticamente inexplorada. O produto seria levado a centros industriais na região, como o futuro pólo gasoquímico de El Tablazo, parceria da Braskem com a venezuelana Pequiven. Além da exportação de gás natural liquefeito, por navio, sugeriu três gasodutos. O Gasoduto do Sul, na visão de Chávez, terá um traçado adicional, que cortaria o Brasil de Norte a Sul. O desenho prevê que o primeiro trecho siga pela região amazônica e o sertão nordestino até Recife (PE).

Chávez ainda destacou sua aposta no Gasoduto Transoceânico, que cortaria o continente do Atlântico ao Pacífico, e no Gasoduto Transandino, que começaria com um trecho entre Venezuela e Colômbia e seguiria para a América Central. Não indicou fontes de recursos para construí-los. Nesse capítulo, defendeu a ampliação do uso do gás em veículos na América do Sul - com o cuidado de não citar a substituição do etanol por esse combustível. Calculou que, se a Venezuela substituísse a gasolina pelo gás, hoje, economizaria US$ 10 bilhões.

Ao iniciar sua lição sobre o que pretende na área de petróleo, Chávez disse que ¿reservou um bloco¿ na Faixa do Orinoco somente para companhias sul-americanas. ¿Queremos pôr o nosso petróleo à disposição da América do Sul.¿ Sugeriu que os bônus pagos por empresas estrangeiras para explorar petróleo na região, calculados em US$ 5 bilhões, sejam reunidos em um fundo para financiar a construção de refinarias, como a ¿exemplar¿ Abreu de Lima - parceria da Petróleos de Venezuela (PDVSA) com a Petrobrás.

Lembrou que companhias americanas e de outros países que operam na região estariam sujeitas ao depósito, mas acenou com garantia ao investimento. Ao término da ¿aula¿, Chávez deu a palavra aos demais presidentes.

O presidente Lula deixou a sala, com um pequeno grupo. Os demais ficaram em silêncio, interrompido por Chávez. ¿Um professor meu dizia que, quando há silêncio, todo mundo entendeu tudo ou não entendeu nada¿, disse, bem-humorado.