Título: Berezovski financia golpe contra Putin
Autor: Cobain, Ian
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2007, Internacional, p. A25

O magnata russo Boris Berezovski disse, em entrevista exclusiva, que está tramando a derrubada do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Suas declarações, feitas sob medida para enfurecer o Kremlin, incendeiam ainda mais as relações entre Londres e Moscou. O multimilionário revelou que já está financiando pessoas próximas a Putin, com o objetivo de conspirar um golpe de Estado violento.

¿Precisamos usar a força para mudar esse regime. Não é possível modificá-lo por meios democráticos¿, disse. Indagado sobre se estava fomentando uma revolução, ele respondeu: ¿Você está correto.¿ (Ontem, após a repercussão da entrevista, Berezovski negou que apóie o uso de violência)

Dono de uma fortuna estimada em US$ 1,7 bilhão, Berezovski desfrutava de enorme influência política na Rússia antes de ser exilado, o que significa que tem meios para cumprir o que promete. O Kremlin considerou a entrevista uma ofensa. ¿Aqui na Rússia, isso é crime. Espero que os britânicos reconsiderem a decisão de dar asilo a alguém que pretende usar a força para mudar o regime na Rússia¿, disse o porta-voz russo, Dmitry Peskov. Berezovski obteve asilo político na Grã-Bretanha em 2003.

Não é a primeira vez que o governo britânico é acusado pelo Kremlin de ter dado guarida a Berezovski. Ano passado, quando disse a uma emissora de rádio de Moscou que queria ver Putin deposto pela força, Jack Straw, então secretário de Relações Exteriores, disse à Câmara dos Comuns que ¿defender a derrubada de um Estado soberano era inaceitável¿ e advertiu o magnata de que ele poderia perder seu status de asilado. Foi o suficiente para que autoridades russas enviassem um pedido de extradição. Contudo, um juiz britânico determinou que Berezovski não poderia ser extraditado.

Na entrevista ao jornal londrino, Berezovski alega ter estreito contato com membros da elite política russa, que compartilharia de suas opiniões sobre Putin, mas recusou-se a dizer nomes, alegando que eles seriam mortos se fossem identificados. O multimilionário afirmou que não está preocupado com a ameaça de perder o status de asilado. ¿Um juiz já disse que a questão não é da alçada do governo britânico¿, disse.

Para Berezovski,existe ainda menos possibilidade de o governo de Tony Blair extraditá-lo por causa do envenenamento de seu ex-funcionário, Alexander Litvinenko, em novembro de 2006. ¿Hoje, a realidade é diferente porque causa do caso Litvinenko¿, declarou.

Berezovski, de 61 anos, é um matemático que começou a ganhar dinheiro com durante a presidência de Boris Yeltsin. Ele fez fortuna captando ativos estatais a preços baixíssimos durante as privatizações na Rússia.Embora tenha tido papel importante na vitória de Putin, nas eleições de 2000, os dois romperam quando o presidente retomou o controle da Rússia em detrimento da tradicional oligarquia, pequeno grupo de magnatas que até então dominara o país.

Logo após a eleição, Berezovski pediu asilo à Grã-Bretanha porque seu amigo Litvinenko, ex-funcionário da antiga KGB, lhe informou que tinha ordem para matá-lo. Então, mudou seu nome para Platon Elenin e recebeu um passaporte britânico. Além do golpe de Estado, Berezovski contou que, nos últimos seis anos, vem ¿tentando destruir a imagem de Putin¿.

Ontem, o Kremlin divulgou nota dizendo que, por causa da entrevista, a Rússia entrou com um processo criminal contra magnata. De acordo com Peskov, as autoridades russas podem interrogá-lo novamente a respeito da morte de Litvinenko. ¿Acredito que agora o procurador-geral da Rússia tenha muitas perguntas para Berezovski¿, disse Peskov. O Ministério das Relações Exteriores da Grã-Bretanha condenou as declarações de Berezovski. ¿Vamos examinar suas declarações e ver se elas estão de acordo com as leis britânicas¿, disse um porta-voz do ministério.