Título: PF prende juízes, bicheiros e policiais
Autor: Auler, Marcelo e Lousada, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2007, Metrópole, p. C1

A Polícia Federal prendeu ontem no Rio e na Bahia 25 pessoas - magistrados, bicheiros, policiais e até o irmão de um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que também está sob investigação. A operação teve como base flagrantes de negociação da venda de decisões judiciais, obtidos por meio de escutas telefônicas, para favorecer a máfia das máquinas caça-níqueis, explorada pelos bicheiros do Rio. Entre os detidos estão dois desembargadores do Tribunal Regional Federal (TRF) do Rio, um juiz do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Campinas, um procurador regional da República no Rio, dois delegados federais e o advogado Virgílio de Oliveira Medina, irmão do ministro Paulo Medina, do STJ.

Com eles, foi presa a cúpula do jogo do bicho: Ailton Jorge, o Capitão Guimarães, presidente da Liga das Escolas de Samba; Aniz Abraão David, presidente de honra da escola Beija-Flor, e Antonio Petrus Kalil, o Turcão. 'Foi a maior operação contra a corrupção já realizada no País', disse o superintendente da PF no Rio, Delci Teixeira.

Batizada de Hurricane (Furacão, em inglês), a operação incluiu buscas nos gabinetes dos desembargadores federais José Eduardo Carreira Alvim e José Ricardo de Figueira Regueira. Carreira Alvim foi detido no seu apartamento, na Barra da Tijuca. Regueira desembarcava da Espanha, no Aeroporto Tom Jobim, quando recebeu voz de prisão.

Os dois são citados também numa apuração reservada do STJ, sobre tráfico de influência para concessão de sentenças favoráveis à máfia dos combustíveis adulterados no Rio. A Hurricane deteve Susie Mattos, corregedora na Agência Nacional de Petróleo (ANP). Lá, sua função era combater fraudes.

Nas buscas, a PF apreendeu 30 carros de luxo e uma quantidade tão grande de dinheiro que foi usado um carro-forte para o transporte até um banco. A ação envolveu 360 policiais de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná e o efetivo do Comando de Operações Táticas. Eles se deslocaram em aviões da Aeronáutica, ficaram em quartéis e usaram 96 carros alugados pela polícia.

A investigação começou há um ano na 6ª Vara Federal do Rio, quando a juíza Ana Paula Vieira de Carvalho autorizou escutas para apurar um esquema de corrupção na PF . Em setembro, o nome do ministro Medina apareceu na investigação, levando o procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, a remetê-la para o Supremo Tribunal Federal (STF). O inquérito passou a ser presidido pelo ministro do STF Cézar Peluso, que autorizou escutas inclusive no gabinete de Alvim.

O desembargador descobriu os microfones, instalados no forro do teto. Alvim, que disputava a presidência do TRF, acusou na época a direção do tribunal pelos grampos. Na eleição, ele foi derrotado por 15 votos a 9.