Título: Corte de 0,25 ponto no juro é quase unanimidade
Autor: Leonel, Flavio e Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2007, Economia, p. B4

A taxa básica de juros brasileira deverá ser reduzida em 0,25 ponto porcentual, de 12,75% para 12,50% ao ano, na reunião de abril do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Esta é a previsão da maioria dos economistas ouvidos pelo Estado. No levantamento, foram consultadas 51 instituições e apenas 2 responderam que a diretoria da autoridade monetária tomará uma decisão mais ousada neste mês, cortando a Selic em 0,5 ponto, o que faria a taxa atingir 12,25% ao ano.

Para a corrente majoritária dos especialistas, o corte de 0,25 ponto será mantido em abril porque o cenário avaliado pelo Banco Central pouco mudou: inflação em nível bastante confortável e recuperação da atividade econômica. Somado a estes fatos está a continuidade da análise, por parte do BC, dos efeitos que a política monetária, com seguidos cortes, estaria trazendo à economia brasileira. A autoridade monetária entende que o benefício dos cortes acumulados desde setembro de 2005 ainda não entrou integralmente na economia.

¿Não acredito que o BC vá acelerar novamente o processo de cortes porque as questões levantadas para a redução de 0,25 ponto, como a da demanda, continuam presentes¿, observa o economista-chefe da Nobel Asset Management, Daniel Chrity. Para o economista-chefe do WestLB, Roberto Padovani, os argumentos utilizados pelo Banco Central para sustentar uma trajetória mais cautelosa na condução da política monetária não podem ser rejeitados. ¿As mudanças metodológicas nas séries de PIB (Produto Interno Bruto) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e de utilização de capacidade instalada na indústria reforçam esta preocupação, uma vez que sugerem menor folga em termos de hiato de produto¿, acrescentou.

Na avaliação das instituições que representaram a minoria das projeções, o cenário atual apresenta condições extremamente animadoras para a economia, que possibilitariam um corte de 0,5 ponto já na reunião de abril. No campo da inflação, as notícias são as melhores possíveis. Na quarta-feira, o IBGE anunciou que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março fechou em 0,37%, taxa que segundo cálculos do próprio mercado veio em linha com a meta implícita do Banco Central, de 4,5% com margens de 2 pontos porcentuais para cima e para baixo.

O câmbio é outra variável que entra na lista dos indicadores que possibilitariam uma medida mais agressiva do Copom na próxima reunião. Ameaçando romper para baixo a barreira dos R$ 2, a moeda americana tem assegurado a manutenção da taxa de inflação em níveis compatíveis com a meta do BC. No mercado, segundo a Pesquisa Focus, o IPCA tende a fechar o ano ainda menor: em 3,86%. Com o dólar em baixa, o cenário tende a melhorar ainda mais.

O que deve impedir a ampliação do ritmo de corte da Selic, na opinião dos analistas, é a alta dos preços dos produtos não-comercializáveis, concentrados no segmento de serviços, que tem oscilado acima dos indicadores cheios de inflação. Esse grupo de preços preocupa os analistas do mercado.

Segundo o sócio-diretor da Global Financial Advisor, Miguel Daoud, que faz parte da minoria que prevê corte de 0,5 ponto porcentual na Selic, nem mesmo com aceleração nominal de 10% da taxa de crescimento do PIB da metodologia antiga para a nova houve explosão da inflação. ¿Crescemos sem inflação, e isso deveria ser considerado pelos diretores do BC na hora de votar a redução da Selic¿, diz Daoud.