Título: Fazenda quer diagnóstico de inflação
Autor: Fernandes, Adriana e Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2007, Economia, p. B8

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, determinou a sua equipe que faça um acompanhamento mais detalhado do comportamento dos preços de diversos setores da economia e suas perspectivas. A intenção é ter subsídios adicionais para o debate em torno da definição da meta de inflação para 2009 e nos próximos anos.

As discussões vão ganhar força nas próximas semanas porque no fim de junho o Conselho Monetário Nacional (CMN) terá de confirmar a meta de 2008 e definir a de 2009. Mantega defende a manutenção também em 2009 da meta de 4,5%, fixada para este ano e para 2008. O Banco Central (BC), no entanto, prefere uma meta menor, segundo fontes ouvidas pelo Estado.

Os técnicos da Fazenda já estão fazendo estudos sobre a inflação com o objetivo de aprofundar as análises, por exemplo, discriminando os focos de maior pressão sobre os preços com peso na inflação. ¿Faremos uma análise mais depurada da evolução dos preços¿, informou um assessor de Mantega.

Segundo essa fonte, o ministério quer uma abordagem diferente e complementar ao relatório de inflação e à ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgados pelo BC, e às expectativas de mercado captadas pela pesquisa Focus. A avaliação preliminar identifica distorções nas análises do BC, que estariam projetando uma inflação maior. Ecoando críticas apresentadas pelo mercado, o principal questionamento da Fazenda é com relação à projeção de reajuste dos preços administrados, como energia elétrica e combustíveis.

Enquanto o mercado trabalha com reajuste de 3,55% para os preços administrados em 2007 e 4% em 2008, o BC projeta uma alta de 4,5% e 5,6% para 2008. Para a Fazenda, essa diferença seria reveladora de que o modelo que o BC usa para projetar a inflação torna o Copom mais conservador na condução da política monetária.

Apesar dos questionamentos do Ministério da Fazenda sobre a atuação do BC, a determinação de Mantega é que o debate fique dentro do governo e saia das páginas do jornais. Agitando a bandeira branca, o ministro tem feito publicamente cada vez mais declarações elogiosas à condução das políticas monetária e cambial pelo time de Meirelles - apesar de desejar mudanças em ambas - e cobrado mais discrição de seus assessores.

Ficou clara a intenção de um armistício com o BC quando Mantega precipitou a saída do ex-secretário de Política Econômica Júlio Sérgio Gomes de Almeida. Na semana passada, quando ainda estava no cargo, Almeida fez duras críticas aos juros, culpando a Selic pela valorização cambial que, na avaliação do ex-secretaria, estaria provocando uma desindustrialização do País. Mantega o demitiu no dia seguinte. Os sinais de paz com o BC emitidos pelo ministro Mantega, para assessores dele, já estariam tendo retorno do lado de Meirelles. A indicação do operador Mário Gomes Torós para substituir o formulador ortodoxo Rodrigo Azevedo na diretoria de Política Monetária do banco foi bem recebida e interpretada na Fazenda como um sinal de menos radicalismo do BC, o que Mantega mais quer. ¿É melhor que haja só um formulador (linha dura) do que dois¿, disse uma fonte.