Título: Amazonas tem 10,4% de crianças abaixo do peso ideal
Autor: Albuquerque, Liege
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2007, Nacional, p. A13

Entre as crianças com menos de 7 anos atendidas pelo Bolsa-Família, em todo o País, as do Amazonas são as que apresentam maior problema de peso - no caso, abaixo dos padrões ideais. De acordo com levantamento feito no ano passado pelo Programa Saúde da Família, essa proporção, no Estado, é de 10,4% - mais de 5 mil crianças, entre as 57.033 atendidas. O número é quase o dobro da média nacional, 6,7%, e um pouco acima da média da Região Norte, 9,9%.

As crianças amazonenses atendidas pelo Bolsa-Família foram monitoradas pela Secretaria de Saúde do Amazonas (Susam) no segundo semestre de 2006. Neste período, o Estado foi o que obteve os melhores índices do País no acompanhamento das famílias beneficiadas com o auxílio - 41% de 178 mil famílias atendidas.

Segundo a coordenadora da pesquisa no Estado, a nutricionista Ester Mourão, estudos da Susam mostram que parte dos problemas de desnutrição de crianças no Amazonas é causada pela ingestão errada de alimentos e da 'monotonia alimentar', marcada pela combinação repetitiva de peixe e farinha, sem complementos. 'As refeições não são balanceadas, apesar da diversidade de produtos da região, principalmente frutas com alto poder nutritivo', explica. 'É necessário instruir as famílias para empregar melhor o auxílio do Bolsa-Família em alimentos funcionais.'

Com os R$ 80 que ganha por mês do Bolsa-Família pelo cadastro de duas das cinco filhas, Débora Hedoley Menezes da Silva, de 32 anos, compra normalmente feijão, arroz e peixe. 'Sei que elas precisam comer verdura, mas dez jaraquis (peixe da região) custam R$ 3, o mesmo que um quilo de tomate', compara. No almoço da última quarta-feira, Débora cozinhou apenas feijão para as quatro filhas maiores de um ano e para ela.

Desempregada, Débora, que tem 1,58m e 49 quilos, disse que suas filhas foram alvo da pesquisa da Susam. 'Os agentes de saúde disseram que elas estavam com baixo peso e estatura.' Das cinco filhas, foram medidas e pesadas no semestre passado Nicole, de 9 anos, 1,18m e 22 quilos, e Alessandra, de 5, com 1,10m e 14 quilos.

Na casa de um cômodo, de madeira, construída em palafitas em cima de um igarapé no bairro Jorge Teixeira, zona leste de Manaus, apenas o bebê de 4 meses parece saudável. 'O alimento da Alexandra é só leite do peito', conta Débora.

Segundo a nutricionista Eliana Figueiredo Rodrigues,coordenadora da pesquisa em Manaus, é a partir do desmame que os números da desnutrição começam a aumentar. 'A criança entra na competição alimentar na família, cada vez mais numerosa. E com alimentação baseada no trio, quando há os três, de feijão, peixe e arroz ou farinha.'