Título: Oposição a Chávez se une em defesa de TV
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2007, Internacional, p. A20
A ameaça do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de não renovar a concessão para a rede de televisão RCTV promete reacender a enfraquecida oposição a seu governo. As transmissões do Canal 2, como é conhecida em toda a Venezuela, deverão ser encerradas às 24 horas de 27 de maio, como retaliação política à sua linha editorial ¿golpista¿. Em princípio, a RCTV dará lugar a uma nova emissora oficial de prestação de serviços. Ontem, sob as advertências do ministro do Interior e Justiça, Pedro Carreño, de que o governo não toleraria ¿alterações na ordem pública¿, pelo menos 50 mil manifestantes de diferentes linhas da oposição realizaram uma marcha de 3 quilômetros até a sede do Canal 2, para apoiar a emissora.
Anunciado em dezembro, depois da reeleição de Chávez, o fim da concessão deixou a RCTV e seus 2.500 funcionários num beco sem saída. A emissora encaminhou um apelo ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), composto apenas por indicados pelo presidente, no início do ano. Continua sem resposta. Nesta semana, apresentou ao mesmo TSJ um documento no qual questionou os argumentos do governo de que necessita da freqüência da RCTV para sua nova televisão e reclamou que sua concessão seria válida até 2022.
Para a RCTV resta apenas um caminho: denunciar a ameaça a organismos internacionais e angariar apoio no exterior. Para os partidos de oposição, a defesa à emissora tornou-se pedra fundamental para sua reativação. Na quinta-feira, apresentaram uma queixa à Organização dos Estados Americanos. No dia anterior, haviam recebido a presidente do Chile, Michelle Bachelet, que manteve clara sintonia com a condenação do Senado chileno à ameaça de Chávez à RCTV.
¿O governo diz publicamente que quer a hegemonia na área de comunicação. A RCTV não vai mudar sua linha editorial¿, afirmou Jorge Paris Mogna, advogado da rede de televisão. ¿Esse é um ataque extremamente grave à liberdade de expressão¿, sustentou o jurista Alberto Arteaga, professor de Direito Penal da Universidade Central da Venezuela.
Com 53 anos de atividade, a RCTV é o canal de maior abrangência na Venezuela. Seu fechamento significaria o fim de dois programas jornalísticos que incomodam especialmente o governo Chávez - El Observador e La Entrevista - e de 33 programações, entre as quais cinco novelas de elevada audiência no país. Desde 1999, o primeiro ano de mandato de Chávez, o canal viu a publicidade oficial minguar. Três anos depois, durante o fracassado golpe de Estado, seus repórteres e instalações tornaram-se alvos preferidos dos chavistas.
¿Ainda não estou pensando num plano B ou C. Tudo depende de como o governo agirá em 28 de maio: se haverá um tanque na porta da RCTV, se chavistas nos atacarão ou se poderemos entrar no prédio para trabalhar¿, afirmou Isabel Mavarez, repórter da RCTV agredida com uma pedrada no rosto, em 2002, por partidários de Chávez.