Título: Drogas contra insônia estão mais eficazes
Autor: Portella, Andréa
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2007, Vida&, p. A26

Seis medicamentos hipnóticos ainda em estudo estão sendo considerados pelos médicos uma grande promessa para ajudar os insones a conviver melhor com as intermináveis noites em claro. Não há previsão da chegada deles ao País, mas os médicos brasileiros estão animados com as perspectivas que oferecem: com atuação mais específica no cérebro, reduzem os efeitos colaterais.

As novas drogas pertencem à categoria dos não-benzodiazepínicos. O grupo não é novo e algumas substâncias, como o Zolpidem, já são vendidas no Brasil há anos. Mas os novos compostos tratam a insônia de forma mais eficiente (veja quadro acima). Gaboxadol e Indiplon são os dois ainda em pesquisa. Os outros quatro (Tiagabina, Ramelteon, Agomelatina e Pregabalina) já são usados para tratar outros problemas e estão sendo estudados para combater a insônia. A Tiagabina, por exemplo, é usada para epilepsia.

¿O Gaboxadol aumenta o sono de ondas lentas, uma das fases em que nos sentimos mais repousados. Isso melhora a qualidade do sono¿, explica a neurologista Dalva Poyares, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O sono de ondas lentas é o quarto estágio do sono - ao todo são cinco. Ao longo da noite, alternam-se estágios leves e profundos.

¿Já o Indiplon mantém a estrutura fisiológica do sono¿, diz Dalva, apontando outro avanço. O sono é mais parecido com o que não é induzido por medicamentos, ou seja, mais repousante.

Os medicamentos benzodiazepínicos e os não-benzodiazepínicos atuam na mesma região do cérebro, junto aos receptores GABA-A (ácido gama-amino-butírico). A diferença é que os últimos conseguem atingir uma parte mais específica desses receptores para o tratamento da insônia. Por isso os efeitos indesejados, como raciocínio lento, são reduzidos. O neurologista e neurofisiologista do Centro de Sono do Hospital das Clínicas, Flávio Alóe, enumera os benefícios: ¿São apenas indutores do sono; a ação é mais curta e restringe-se à primeira metade da noite, o sono é mais parecido com o natural e ficam reduzidas as chances de tolerância e dependência¿.

Os não-benzodiazepínicos foram lançados depois dos medicamentos benzodiazepínicos. É nesta última categoria, surgida no fim da década de 50, que estão os remédios usados há mais tempo para o tratamento da insônia, como Lexotan e Dormonid. Antes deles, os médicos receitavam barbitúricos, categoria de efeito sedativo, como o Gardenal, para quem não conseguia dormir. ¿Em doses mais altas, os barbitúricos podiam matar¿, conta Alóe. ¿Ainda são usados, mais raramente, como coadjuvantes para epilepsia.¿

Alóe destaca que, apesar das boas promessas dos não-benzodiazepínicos, os benzodiazepínicos continuam sendo úteis. ¿Nada melhor para tratar a ansiedade do que um benzodiazepínico.¿

Estudos internacionais estimam que de 30 a 48% da população tenha sintomas noturnos de insônia. Desses, 25% são do chamado tipo primário, que atinge entre 1% e 2% da população e podem ser tratados com remédios. Tanto esse como os outros tipos (causados por doenças físicas, psiquiátricas ou medicamentos) afetam mais pessoas da terceira idade e indivíduos mais pobres.

A dona de casa Ana Lúcia Tozato Silva, de 57 anos, sofre tentando tratar a insônia que a acompanha desde a infância. Uma receita de 1982 mostra que ela tomava mais de 10 comprimidos por dia. Sem sentir os efeitos, abandonou o tratamento há mais de 20 anos. ¿Eu não durmo com e não vou dormir sem, então, melhor não tomar nada.¿ Até hoje, as noites de sono são ruins e pioram em momentos de crise. ¿Nunca dormi 4 horas seguidas.¿

As drogas em estudo não vão dar a Ana Lúcia seu sonho de consumo: 8 horas de sono. Mas podem ajudá-la nos momentos de crise. ¿Elas são testadas e desenvolvidas para serem usadas por até 2 meses¿, explica a neurofisiologista Suzana Veiga Schonwald, do Laboratório do Sono do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Ou seja, são indicados para tratar da insônia primária.

¿Essa insônia começa com a perda de emprego ou de um parente, por exemplo. E não passa¿, afirma Suzana. Segundo ela, o cérebro muitas vezes se condiciona negativamente. É por isso que os médicos receitam medicamentos para momentos mais difíceis e, depois, tratam os hábitos de sono (leia acima).

Quando a mãe ficou doente, a massoterapeuta Mônica Miranda de Oliveira, de 34 anos, passou a dormir cerca de duas horas. ¿Nos últimos dois anos, tenho dormido, no máximo, três.¿ Depois de desistir dos remédios, mudou hábitos e diz que se sente melhor.