Título: Importações dobram no governo Lula e vão superar US$ 100 bilhões
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2007, Economia, p. B1

Pela primeira vez, as importações brasileiras devem ultrapassar US$ 100 bilhões em 2007. É mais do que o dobro do valor registrado no primeiro ano do governo Lula (2003), quando as compras externas somaram US$ 48,3 bilhões.

Estimativa inicial da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) aponta para US$ 102 bilhões em importações este ano, o que representa aumento de 11,5% em relação a 2006 (US$ 91,4 bilhões). Diante dos números divulgados na semana passada pelo governo, a entidade já fala em rever para cima essa projeção. Até a segunda semana de abril, o crescimento foi de 24% sobre igual período do ano passado.

¿Não será surpresa se chegar a US$ 110 bilhões¿, diz José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB. Segundo ele, os dados do comércio exterior brasileiro revelam um movimento crescente de substituição de produção local por importação, fruto da valorização do real ante o dólar e do crescimento do mercado interno, além do fenômeno China.

Para Castro, um sinal claro dessa tendência foi o aumento de 26% nas importações sob regime de drawback no ano passado, enquanto as exportações de manufaturados cresceram só 14,7% no mesmo período. Por esse sistema, as empresas gozam de benefícios fiscais na importação de mercadorias usadas em produtos de exportação.

¿Se a importação por drawback cresce mais do que a exportação de produtos industriais, é porque as empresas estão adquirindo lá fora matérias-primas e componentes que antes eram compradas no mercado interno¿, explica o executivo.

Não é à toa que o número de empresas importadoras vem se multiplicando no País. Só no primeiro bimestre deste ano, 15,8 mil empresas atuaram nesse mercado - 1,5 mil a mais do que em igual período de 2006. Já o número de exportadores teve acréscimo de apenas 119 empresas, totalizando 10,2 mil. ¿A fome de importação cresce numa velocidade espantosa¿, observa o vice-presidente da AEB.

Fabricantes de eletrodomésticos, eletroeletrônicos, material de construção, confecções e calçados, entre outros, estão importando produtos acabados da China, que são revendidos com marca brasileira.

¿Sai bem mais barato importar da China do que produzir no Brasil¿, diz Lúcio Costa, presidente e fundador da Madson Eletrometalúrgica, fabricante de eletrodomésticos da marca Suggar. A diferença chega a 40%, em média.

Desde meados de 2006, a empresa passou a importar da China ferros para passar roupa, sanduicheiras, coifas, exaustores, fornos, adegas climatizadas e máquinas de fazer gelo, entre outros produtos. Hoje, dos 40 itens que vende, apenas seis são de fabricação própria. O resultado foi um salto de 45% no faturamento.

O empresário tem planos de ampliar o mix de mercadorias importadas. Seu filho e gerente da empresa, Leandro Costa, está em viagem de 20 dias à China, negociando contratos com fabricantes de artigos de cuidados pessoais, como depiladores, chapinhas e máquinas de cortar cabelo. ¿O mercado é do tamanho da nossa imaginação¿, diz. ¿Só as Lojas Insinuante (líder no Nordeste) venderam 22 mil chapinhas chinesas em um único dia.¿

Líder no segmento de ferro para passar roupa, a Black & Decker passou a importar da China cerca de 400 mil ferros por ano, dos modelos mais populares, deixando de produzi-los no País. Na área de ferramentas, a empresa também substituiu a fabricação local de serras tipo tico-tico por produto chinês. Alguns tipos de furadeira também são importados.

¿Mantida a situação atual, corremos o risco de sermos questionados pela matriz americana se vale a pena manter uma fábrica no Brasil ou trazer tudo da China¿, diz Domingo Dragone, vice-presidente de Operações na América Latina. A fábrica de Uberaba (MG) emprega hoje 630 pessoas, 150 a menos que no início de 2006.

Até o fim do ano, a americana Timken fechará a sua fábrica de rolamentos automotivos em São Paulo, que produz 20 milhões de peças por ano. Desse total, 40% são destinados ao mercado doméstico, que passará a ser abastecido por outras fábricas do grupo nos Estados Unidos, Europa e Ásia.

¿O principal motivo foi a queda nas vendas das montadoras nos Estados Unidos ocorrida em 2006, mas o câmbio desfavorável no Brasil teve papel importante¿, diz Mauro Nogueira, gerente de Marketing da América Central e América do Sul.

A desativação da unidade,em operação desde 1960, desempregará 270 pessoas. A empresa manterá a presença no País, por meio de sua organização de vendas e centro de distribuição.

Há consenso em que o Brasil precisa importar mais, porque tem um nível de abertura ainda muito baixo. ¿Mas é preciso classificar as importações que são benignas e as que são malignas¿, diz Roberto Giannetti da Fonseca, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). No primeiro grupo, estão os produtos competitivos em preços e qualidade. ¿O lado destrutivo é a importação com subsídios de outro país, como é o caso da China, ou preços aviltados.¿

Para Thomas Lee, presidente da Abmei, entidade que reúne importadores de máquinas e equipamentos, o setor contribui para a produção de artigos mais baratos e competitivos. Segundo ele, isso se reflete no aumento de consumo e da produção voltada à exportação.