Título: Sem alarde e antes da decisão do STF, Senado abre a investigação
Autor: Gallucci, Mariângela
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2007, Nacional, p. A4

Sem alarde político, a CPI do Apagão Aéreo no Senado se tornou ontem um fato consumado. Às 17h30, pouco antes da manifestação do (STF que obrigou a instalação de comissão com igual finalidade na Câmara, foi feita a leitura do requerimento da CPI, assinado por 34 dos 81 senadores. A comissão, no entanto, só será efetivamente instalada em meados do mês que vem, porque os líderes aliados e de oposição ao governo acertaram o prazo de 20 dias para a indicação de seus membros.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), nem se deu ao trabalho de ler o requerimento da CPI. De seu gabinete, determinou que um funcionário levasse o documento ao plenário e passou a tarefa ao senador Mão Santa (DEM-PI), que presidia a sessão. A leitura não despertou polêmica. Nenhum tucano se manifestou sobre a abertura do inquérito e nenhum oposicionista ameaçou o governo com as investigações, que devem incluir a Infraero.

¿Faremos a CPI que não é para amedrontar ninguém¿, discursou o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA). ¿É para que o tráfego aéreo seja coisa séria, que hoje não é.¿

¿Trabalharemos para identificar, sem emoções, as razões do apagão aéreo e para identificar a culpa, o dolo e as omissões onde estiverem¿, disse o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN). ¿Tudo será objeto de uma investigação isenta.¿

O líder do PSB, Renato Casagrande (ES), foi o único que manifestou preocupação com eventuais prejuízos para o Congresso com CPIs simultâneas na Câmara e no Senado. ¿Isso pode acirrar a disputa entre as duas Casas e fazer com que tenhamos uma situação de mais descrédito para o Congresso.¿

A seu lado, um dirigente nacional do PSDB, que pediu para não ser identificado, lembrou apenas que fora voto vencido contra a CPI do Senado e não acreditava em resultado positivo. ¿Vai ser um tiro no pé, porque o Senado não tem esse perfil investigativo aguerrido, que precisaria ter. A CPI daqui não vai levar a nada e ainda vai criar uma disputa ruim com a Câmara.¿

Causou estranheza no DEM e no PSDB o fato de Agripino ter sugerido, na véspera, o prazo de 30 dias para os partidos indicarem seus representantes na CPI. Ontem, o líder explicou que o fez por desconhecimento. ¿Eu tenho de confessar que estava mal informado. Julguei que fosse esse o prazo regimental.¿

Os 20 dias estabelecidos resultaram de uma contraproposta de ACM. Antes da reunião de líderes que definiu as regras, o senador baiano já havia alertado o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), de que era preciso ter muito cuidado com os procedimentos, porque ambos haviam visitado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Planalto e isso poderia gerar desconfiança.

O senador Romeu Tuma (DEM-SP), que também visitou Lula esta semana e chegou a admitir que poderia deixar o partido, pôs seu nome à disposição para participar da CPI. Um dirigente do DEM garante, no entanto, que ele não será escalado. Os mais fortes candidatos do partido seriam o próprio líder, ACM e Demóstenes Torres (GO).