Título: Treinado para dar a vida pelo papa
Autor: Godoy, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2007, Vida&, p. A23

O católico Flávio Luiz Trivella não pode responder tudo o que lhe perguntam sobre a visita do papa Bento XVI ao Brasil. Razões de segurança o impedem. Não pode, por exemplo, dizer se o papa usará colete à prova de balas. Trivella, que é delegado da Polícia Federal, estará mais próximo de Joseph Ratzinger do que a maioria dos hierarcas da Igreja. O que lhe permitirá esse acesso ao líder espiritual de sua religião é o fato de ele ter sido escolhido para exercer uma função especial: a de mosca ou sombra do papa. Se algo der errado e um fanático atentar contra Ratzinger, ele é que salvará Bento XVI, retirando-o dali ou protegendo-o com o próprio corpo e vida.

Não que isso seja algo novo na vida de Trivella. Há pouco mais de um mês, o delegado desempenhou função semelhante para um alvo muito mais visado: o presidente americano George Bush. ¿Ele elogiou muito o nosso trabalho e me deu um bóton da presidência¿, revela com orgulho o policial. O homem de 44 anos mostra preocupação ao falar sobre seu trabalho. ¿Terei a visão de onde o papa estiver que me permitirá enxergar todos os pontos frágeis que devem ser sanados.¿

Como sua função já diz, ele ficará sempre nas costas do papa a pé e no papamóvel. ¿Não podemos ser tão ostensivos como no caso do Bush. No caso do papa, a segurança tem de existir mas não pode ser aparente.¿ Outros cinco agentes federais estarão constantemente com Bento XVI. Um deles será o motorista do papamóvel. Os outros quatro acompanharão Trivela nos deslocamentos a pé do papa. ¿Haverá um módulo em forma de losango em torno de Sua Santidade deslocando-se com o papa sem atrapalhá-lo. Todos os agentes foram escolhidos a dedo.¿ Os federais terão a companhia nesse trabalho de quatro homens da Guarda Suíça que devem acompanhar o papa no Brasil - Bento XVI trará 15 deles a São Paulo.

Além de ser a sombra do papa, Trivella comandará todo o esquema de 400 homens da PF durante a visita. É o chefe do Núcleo de Proteção a Dignitários da Superintendência de São Paulo da PF.

Há quatro anos no setor, o delegado, além de Bush, conta que já protegeu, entre outros, o Dalai Lama, o ex-presidente americano Bill Clinton, o primeiro-ministro da Itália, Romano Prodi. Exibe em seu currículo cursos no Serviço Secreto Americano, que cuida da segurança presidencial, e na inteligência japonesa.

Antes de ser delegado federal, Trivella foi por 15 anos policial civil. Desde dezembro, está envolvido no planejamento da visita do papa, o que ele considera ¿uma honra¿.

A honra fez com que ele fosse o homem que tem a chave de cada detalhe da visita: do credenciamento de autoridades aos locais onde estarão os atiradores de elite. ¿Não posso dizer onde nem quantos.¿

Nos últimos meses, preocupou-se com o número de homens em cada deslocamento de Ratzinger em São Paulo e quais armas os agentes devem usar (¿serão modernas¿). Planejou cada uma das varreduras em busca de explosivos e armas no Estádio do Pacaembu e no Campo de Marte e as revistas com aparelhos de raio X de autoridades brasileiras, jornalistas e até cardeais da Igreja. Nem um canivete pode passar. Em suma, um trabalho que sempre conta com o pior. ¿É minha função.¿