Título: Apelo feminista de Ségolène fracassa
Autor: Sant¿Anna, Lourival
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2007, Internacional, p. A21

Antes de lutar com todas as armas pelo apoio dos políticos do centro, estimando herdar 60% de seus 6,75 milhões de votos, a candidata do Partido Socialista (PS) à presidência da França, a deputada Ségolène Royal, tentou conquistar o apoio do público feminino. Estimativas do resultado do primeiro turno e as últimas pesquisas para o segundo, amanhã, indicam que ela não teve sucesso.

Tanto o PS quanto a União por um Movimento Popular (UMP), de Nicolas Sarkozy, avaliam que a socialista deve sair das urnas com um eleitorado feminino quase idêntico ao masculino. Não é uma derrota, mas está longe de ser uma vitória.

Desde o início da campanha à indicação do PS, sacramentada em novembro, Ségolène vinha multiplicando os apelos à união feminina. Entre janeiro de 2006 e fevereiro de 2007, a socialista fez questão de associar sua imagem a de mulheres líderes políticas, como a presidente chilena, Michelle Bachelet, e a senadora e primeira-dama argentina, Cristina de Kirchner. Nos comícios, Ségolène frisou que tomaria medidas para combater a violência contra a mulher e chegou a prometer punição mais severa aos homens agressores como a primeira ação de seu eventual governo.

A estratégia gerou o clichê ¿a primeira mulher com chances reais de se tornar presidente da França¿, que continua a circular por agências de notícias de todo o mundo. O tema foi tão abordado que despertou insatisfação no meio intelectual. Em artigo publicado no Le Monde, Sylviane Agacinski, filósofa e ex-discípula de Jacques Derrida, escreveu: ¿Não me parece que uma candidata deva esperar nenhum benefício de um feminismo vitimista.¿ O apelo da socialista não ecoou no imaginário feminino francês. Uma pesquisa do instituto BVA mostra até mesmo que Sarkozy tem mais apoio das mulheres: 52% contra 48%.

Na realidade, estratos das pesquisas revelam que o apoio à candidata do PS é maior entre operários - 58%, contra 42% de Sarkozy - e entre jovens, mas não entre mulheres. ¿Não há um `voto mulher¿ na França. Temos claras distinções de faixas etárias e de classes sociais, mas não de sexo¿, garantiu ao Estado Eric Bonnet, encarregado de estudos políticos do BVA.

Jean-Daniel Lévy, do CSA, confirma. De acordo com as sondagens do instituto, Ségolène segue em desvantagem entre mulheres, perdendo por 52% a 48% para Sarkozy. A boa notícia é que, entre 22 e 25 de abril, a variação lhe foi positiva. O índice anterior indicava 53,5% para o conservador, contra 46,5% da socialista.