Título: Jovem católico apóia camisinha
Autor: Iwasso, Simone
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2007, Vida&, p. A33

A maioria dos jovens católicos concorda com o uso da camisinha e discorda da proibição de ter relações sexuais antes do casamento, contrariando as recomendações da Igreja. Porcentualmente, eles se posicionam praticamente da mesma maneira que jovens que se declaram ateus ou agnósticos.

O resultado apareceu numa pesquisa feita pelo Ibope, encomendada pela organização Católicas pelo Direito de Decidir, com homens e mulheres de 18 a 29 anos. Durante três meses (novembro e dezembro do ano passado e janeiro deste ano) foram ouvidas, numa amostragem nacional, 1.989 pessoas.

Quando questionados sobre o uso de camisinha ou outros métodos contraceptivos, 96% dos jovens que se disseram católicos foram favoráveis ao uso. Entre os que se declararam ateus ou agnósticos, o percentual foi de 97%. Entre os evangélicos, houve uma maior diferença: 81% deles apoiaram.

¿O que chama atenção é que os jovens católicos, quando se trata de sexualidade, são favoráveis aos métodos contraceptivos e à autonomia em relação à virgindade, à decisão do momento de iniciar sua vida sexual. Se portam como jovens não-católicos¿, afirma Dulce Xavier, socióloga das Católicas pelo Direito de Decidir.

Para d. Rafael Cifuentes, responsável pela Comissão Episcopal para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), esse comportamento reflete que há muitos jovens que se dizem católicos, mas de verdade não o são. ¿São jovens que se dizem católicos, mas não praticam o catolicismo. Não é porque a pessoa foi batizada, que se casou na igreja, que ela tem uma prática católica verdadeira. São católicos só de nome¿, afirma.

Na análise da antropóloga Miriam Grossi, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), os dados da pesquisa retratam a realidade do catolicismo no País, ou seja, uma adoção, na vida íntima, de valores diferentes dos proferidos pela Igreja. ¿As práticas afetivas e sexuais da contemporaneidade estão descoladas do campo ideológico da religião. O discurso da Igreja não significa muito para a vida íntima das pessoas e elas conciliam isso com sua fé. Continuam sentindo-se católicas, mas seguem seus próprios valores morais em relação a suas práticas afetivas.¿

Até mesmo quando se trata de aborto, tema que provoca polêmica não apenas no meio religioso e que voltou ao debate público neste ano, 62% dos jovens católicos afirmaram discordar da prisão de mulheres que cometem o ato. Quando a pesquisa seleciona apenas os católicos com nível superior, o índice chega a 71%. ¿A gente tem uma forma de religião muito particular no Brasil. Os católicos principalmente conseguem relativizar os dogmas da Igreja, para eles esse não é o cerne da questão¿, diz a psicóloga Cristiane Cabral, do Centro Latino-Americano de Sexualidade e Direitos Humanos.