Título: BC rebate críticas à política de juros
Autor: Freire, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2007, Economia, p. B1

Criticado dentro e fora do governo por causa da condução da política de juros, o Banco Central (BC) divulgou ontem um relatório, o Focus, em que explica o método de tomada de decisões do Comitê de Política Monetária (Copom).

Segundo o texto, a taxa básica de juros (Selic) é fixada com base na avaliação do cenário econômico nacional e internacional. Além do julgamento dos diretores do BC, fórmulas matemáticas simulam o comportamento da oferta e da demanda, indicando os rumos da inflação.

O relatório Focus é parte de uma série de estudos do BC sobre a economia, mas estava interrompida havia um ano e quatro meses. 'Nosso objetivo é debater temas relevantes e procurar ampliar mais a nossa transparência', disse uma fonte do BC.

Ao explicar como o Copom decide, porém, o relatório rebate várias críticas à política de juros. Criado pela equipe do diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, o texto defende os modelos macroeconômicos utilizados pelo Copom em suas decisões e enfatiza que eles são comuns aos bancos centrais mais modernos do mundo.

Esses modelos foram o alvo da mais recente carga do 'fogo amigo' contra a política de juros. Em março, integrantes da equipe do ministro da Fazenda, Guido Mantega, disseram ao Estado que os cálculos feitos pelo BC estavam sendo contestados internamente.

Para a Fazenda, o Copom toma decisões com base em estimativas exageradas sobre a evolução dos preços administrados (combustíveis, energia e outros). Na prática, isso resulta em cortes menores nos juros. Esses preços respondem por cerca de 30% do Índice de Preços ao Consumidos Amplo (IPCA), que é a referência do sistema de metas de inflação. As estimativas do BC para os preços administrados estavam bem acima dos do mercado.

De acordo com o relatório, os modelos não são fechados e consideram informações externas (séries históricas, indicadores antecedentes e as expectativas do setor privado para a trajetória de variáveis econômicas relevantes). O texto enfatiza que o modelo é periodicamente atualizado, não fica defasado, como argumentam economistas da iniciativa privada.

Apesar da defesa dos modelos macroeconômicos, o BC destaca que as decisões do Copom não têm base só neles. 'Por mais informativos que sejam, modelos serão sempre uma aproximação da complexa realidade macroeconômica', diz o relatório. Por isso, o relatório afirma que o 'exercício de julgamento é fundamental' nas decisões do Copom.