Título: Cangaço no século 21
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2007, Notas e Informações, p. A3

Como toda infecção que se alastra sem encontrar anticorpos que lhe dêem combate, o Movimento dos Sem-Terra (MST) e assemelhados a cada novo dia de operações vão se superando. O grau de brutalidade de suas ações aumenta na razão direta da falta de vontade dos Poderes Públicos de fazer respeitar a lei e a ordem, de enfrentar esses fora-da-lei que cada vez mais escarnecem dos direitos alheios, das autoridades constituídas, da produção e do trabalho.

Em continuidade à sua megaoperação do ¿abril vermelho¿, cerca de 150 militantes emessetistas invadiram segunda-feira a Fazenda São Francisco, em Mirante do Paranapanema. Brandindo foices e facões, ¿eles cortaram a cerca e foram ameaçando os funcionários¿ - como relatou o proprietário da fazenda. Essa fazenda, de 700 hectares, possui rebanho bovino de leite e corte e é produtiva, tanto que seu proprietário dela tira mais de 300 litros de leite por dia. Mas considerando-a de ¿terras devolutas¿, os líderes do MST cortaram a cerca, misturaram 1.500 cabeças de gado e impediram os funcionários de ordenhar e alimentar os rebanhos.

Em Presidente Bernardes, militantes do MST foram acusados de furtos pelo proprietário da Fazenda São Luiz, durante a desocupação da área. A fazenda fora invadida na semana passada pela nona vez e a Justiça determinara a desocupação, ocorrida no fim de semana. E foi então que 300 militantes emessetistas fizeram verdadeiro ¿arrastão¿, levando bomba de poço artesiano, reservatório de água, caixas de energia elétrica e a fiação das casas dos funcionários - além de destruírem 5 quilômetros de cerca, levarem o arame e matarem 3 bois. ¿Não é movimento social, mas um bando de vândalos. Fizeram uma destruição desnecessária, o que prova que a última preocupação deles é a reforma agrária¿ - constatou o proprietário.

A Fazenda Lagoão, em Itapura, no interior de São Paulo, com 1,7 mil hectares e 2,1 mil cabeças de gado, foi invadida duas vezes em três dias e passou a ser ¿administrada¿ por militantes do MST. Primeiro chegaram 102 famílias, depois 200. Seus líderes proibiram o administrador e funcionários da propriedade de realizar seus trabalhos e assumiram as tarefas. Por um tempo mantiveram os funcionários fechados nas casas, depois os liberaram para trabalhar, mas apenas acompanhados de militantes do MST. Usando ferramentas agrícolas e dois tratores trazidos pelo movimento, os invasores destruíram três hectares de plantação de capim-colonião que, a partir de maio, serviria de pasto para o gado. E isso porque o ex-padre sueco Renée Parrem, que comandou a invasão (ah se cometesse tal vandalismo em seu país de origem!), acha que ¿o capim serve apenas para latifundiários criarem gado e agora vai dar lugar a alimentos¿.

No Pará, cerca de 500 fazendeiros e seus empregados, nas cidades de Parauapebas e Curionópolis, cobraram do governo, segunda-feira, o cumprimento de nada menos que 127 mandados de reintegração de posse expedidos pela Justiça estadual há mais de dois anos. Trata-se de fazendas invadidas por vários movimentos ditos ¿sociais¿, incluindo MST, Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri) e sindicatos de lavradores. Aí, realmente, assusta a absoluta incapacidade de o Poder Judiciário local fazer respeitar a lei. Mais de dois anos sem cumprir mandados judiciais significa impotência total da Justiça - e desprezo total à lei.

Nesta terça-feira outros movimentos de sem-terra ocuparam o Porto de Maceió. Seria fastidioso enumerar todas as operações praticadas por esses bandos na grande promoção anual do ¿abril vermelho¿. Invasões e depredações de sedes de fazendas produtivas, destruição de cercas e de plantações, colocação de funcionários em cárcere privado ou os submetendo a extrema coação, ocupação de prédios públicos e sedes de instituições, como o Incra, saques de cargas e de praças de pedágio - quando não depredação destas - e violências correlatas impõem a pergunta óbvia: até onde chegarão? Que mais precisarão fazer para desmoralizar de vez todas as instituições do País, além das ações de puro cangaço que praticam em pleno século 21?