Título: Programa transformou favela
Autor: Nogueira, Rui e Weber, Luiz
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2007, Nacional, p. A4

Há quatro anos e meio, quando o governo do Rio implantou um programa de policiamento comunitário no Morro do Cavalão, a favela de Niterói apresentava todas as características que levam outras localidades pobres a ter presença constante no noticiário. Guerras entre quadrilhas de traficantes de drogas, tiroteios a qualquer hora e bailes funk movidos a entorpecentes eram parte do cotidiano.

Com a chegada dos 70 homens do Grupamento de Policiamento em Áreas Especiais (Gpae), em dezembro de 2002, o quadro mudou. Depois de quase um ano de confrontos, grande parte dos traficantes fugiu para outras favelas e programas socioculturais começaram a transformar em confiança o medo inicial gerado pela presença da PM. Hoje, sem tiroteios ou homicídios, o Cavalão é considerado o mais bem-sucedido dentre os Gpaes.

No Cavalão, o projeto criou parcerias com a Prefeitura de Niterói e ONGs, levando ao morro opções de lazer, salas de informática e assistência médico-odontológica.

Em entrevista ao Estado, o antropólogo Roberto Kant de Lima, pesquisador da Universidade Federal Fluminense, observou que o objetivo principal do policiamento comunitário não é acabar com o tráfico de drogas, mas criar um bom relacionamento com a comunidade.

'O tráfico fica submerso. O que não tem mais é o tiroteio. O enfrentamento é que cria o ciclo de extorsão que envolve policiais e traficantes. Isso o Gpae elimina', afirmou. 'O tráfico não desapareceu, mas conseguimos inverter os papéis. O inimigo não está morto, está adormecido', disse o comandante do Gpae do Cavalão, capitão Felipe Romeu.