Título: CNA se queixa de violência no campo
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2007, Nacional, p. A11

Preocupada com as invasões promovidas pelos sem-terra e o aumento das pressões de quilombolas e indígenas por mais terras, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) decidiu iniciar um movimento para chamar a atenção da sociedade para essas questões. Segundo o presidente da Comissão Nacional de Assuntos Fundiários e Indígenas da entidade, Leôncio Brito, os conflitos estão aumentando e fugindo ao controle.

'A impunidade campeia, criando um clima de intranqüilidade e violência que preocupa os investidores', disse ele. 'Cada vez que uma propriedade é invadida, uma cadeia produtiva inteira é afetada - do fornecedor de insumos ao comprador do produto final. Nos últimos quatro anos nós tivemos quase mil invasões.'

A primeira iniciativa da CNA foi a realização do Fórum Empresarial Agrícola, ontem, em Brasília. Na ocasião, a Associação Brasileira de Florestas Plantadas (Abraf), que também ajudou a organizar o encontro, informou que, se forem demarcadas e tituladas todas as áreas reivindicadas pelas cerca de 3.500 comunidades quilombolas que se estima existir no País, será necessário desapropriar 21 milhões de hectares de terras - o que equivale a cinco vezes o território do Estado do Rio de Janeiro.

'Isso daria origem a inúmeros conflitos, afetando não só grandes empreendimentos, mas também pequenos agricultores', disse o diretor-executivo da Abraf, César Reis.

De acordo com Edivaldo Permanhane, agricultor capixaba convidado para o fórum, as desapropriações que o Incra pretende realizar em São Mateus do Sul, no Espírito Santo, para atender os quilombolas, afetarão sobretudo pequenos e miniproprietários. 'Aquele é um município onde predominam propriedades familiares, muito produtivas. Por causa desse decreto que o governo federal fez, permitindo às pessoas se auto-declararem quilombolas e reivindicarem terras que teriam sido ocupadas por seus antepassados, a maioria dessas propriedades será desapropriada. Que culpa tenho eu da escravidão?'

Segundo a CNA, desde a década de 60 os governos destinaram 68,6 milhões de hectares à reforma agrária. 'Isso é maior que a área conjunta de lavouras anuais, de grãos, que ocupa 47 milhões de hectares, e a de lavouras permanentes, com 15 milhões', observou Leôncio Brito. 'Mesmo assim as pressões por mais terra continuam, com ações violentas e badernas. Atualmente o custo por família assentada gira em torno de R$ 70 mil. É um custo alto. Apesar disso, ninguém sabe ao certo quantos assentamentos sobrevivem com seus próprios recursos, quantos deram certo.'