Título: Ata do Copom divide apostas para próximo corte da taxa Selic
Autor: Graner, Fabio e Freire, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2007, Economia, p. B1

Os três integrantes do Comitê de Política Monetária que votaram pela redução de 0,5 ponto porcentual da taxa Selic, na reunião da semana passada, argumentaram que as importações têm contribuído para manter a perspectiva de inflação sob controle. Mas, segundo a ata divulgada ontem, a maioria do integrantes do comitê continua acreditando que a defasagem entre os cortes de juros realizados até agora e seu impacto na atividade econômica justificariam a manutenção do ritmo de 0,25 ponto porcentual.

O documento volta a falar em parcimônia, apesar de traçar um cenário favorável para a inflação e para a economia. O texto não permite uma aposta líquida e certa em relação a um corte de 0,5 ponto porcentual na reunião de junho e chama a atenção para o fato de que, entre os diretores, ainda prevalece a ¿incerteza¿ em torno dos efeitos do corte de 7 pontos porcentuais até agora. São essas incertezas que recomendam manter o ritmo de redução da taxa Selic, apesar da avaliação de que a expansão da capacidade da economia brasileira ¿permanece robusta, sustentada tanto pela importação quanto pela produção de bens de capital¿.

Tanto quem prevê 0,5 ponto porcentual como quem espera a continuidade do regime de conta-gotas de 0,25 ponto porcentual encontra na ata argumentos para defender suas apostas. Para os otimistas, o cenário positivo para a inflação reforça a expectativa de um Copom menos conservador.

¿Essa perspectiva está amparada, sobretudo, na evolução muito favorável da inflação, num contexto de aceleração das importações e intensificação da pressão de valorização sobre o câmbio¿, avalia a LCA Consultores em relatório distribuído aos clientes.

¿O BC está de volta ao 0,5¿, sentencia o economista Darwin Dib, do departamento econômico do Unibanco, destacando que as projeções do BC para a inflação estão abaixo da meta de 4,5% e a ata ainda reduz as estimativas para os reajustes nos preços administrados (de 4,5% para 4,2% neste ano).

O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Thadeu Filho, considera, no entanto, que a ata aponta para a continuidade do maior conservadorismo do BC, pelo menos para a próxima reunião. Para ele, as apostas de um corte de 0,5 ponto estão contaminadas pelo câmbio, que tem se valorizado fortemente, apesar da agressiva atuação do BC no mercado. ¿Mesmo tendo o palpite de corte de 0,25 ponto para a próxima reunião, eu diria que essa ata torna discricionária e menos previsível a próxima decisão do Copom¿, acrescentou.

Além do cenário positivo para a inflação, a ata destacou o aumento nos investimentos e ponderou que os novos dados do Produto Interno Bruto (PIB), com a nova metodologia do IBGE, mostram aumento na produtividade da economia. No setor externo, apesar das incertezas originadas dos Estados Unidos, o cenário é visto como ¿favorável¿. O documento destaca que, apesar das turbulências no mercado de petróleo, a gasolina não deve subir neste ano.

PRÓ 0,25

Alexandre Bassoli HSBC

¿O fato de que três diretores votaram a favor de um corte de 0,5 ponto definitivamente sugere que não deveríamos descartar essa possibilidade, mas a ata reforça nossa visão de que esse não é o cenário mais provável¿

Marcelo Fonseca Banco M. Safra

¿Não consigo encontrar na ata argumentos suficientes para justificar a euforia de alguns de que ela aponta claramente para a redução de 0,5 ponto porcentual da Selic¿

PRÓ 0,5

Joel Bogdanski Banco Itaú

¿Depois desta ata, a saída de (Rodrigo) Azevedo e a chegada de (Mário) Torós, podemos ter uma decisão unânime por um corte de 0,5, ainda que o BC mantenha a retórica de parcimônia¿

Darwin Dib Unibanco

¿Embora a ata tenha trazido um conjunto de informações defasado, também sinalizou que há espaço para cortes maiores¿.