Título: Elas ainda cuidam da casa. De outros Serviço doméstico lidera ocupação feminina
Autor: Farid, Jacqueline
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2007, Economia, p. B4

A alagoana Angelita Josias da Silva tem 32 anos e trabalha desde os 16 como doméstica. Conseguiu concluir o ensino médio, mas preferiu continuar ¿ajudando¿, como ela mesmo define, na administração da casa de uma família de classe média em Maceió (AL). Lá ficou por 14 anos.

Em outubro passado, porém, resolveu mudar para São Paulo. Sua irmã Ivani, também doméstica, que vive no bairro de Perus, zona oeste da capital, conseguiu um serviço para Angelita.

A alagoana decidiu arriscar, e, hoje, ganha R$ 450 reais por mês limpando e organizando a residência da contadora Adriana Pereira, de segunda a sexta-feira. ¿Só não tenho ainda a carteira assinada¿, conta.

Do total de mulheres que estão ocupadas em São Paulo, 17,7% têm história semelhante à de Angelita. O porcentual indica que quase uma em cada cinco mulheres da capital paulista exerce algum tipo de serviço doméstico. São empregadas, diaristas, babás ou faxineiras. A maioria delas tem baixa escolaridade e não está protegida pelas leis trabalhistas.

O dado foi revelado por uma pesquisa realizada pela Fundação Seade e pelo Conselho Estadual da Condição Feminina na região metropolitana da capital paulista, entre novembro de 2005 e outubro de 2006.

Segundo a pesquisa, mulheres adultas e com baixa escolaridade compõem o perfil das domésticas. Mais da metade delas têm mais de 50 anos. O maior contingente (39,7%) está na faixa etária de 25 a 39 anos. Em seguida, vêm as trabalhadoras que têm entre 40 a 49 anos de idade (28,5%).

A maioria não chegou a concluir o ensino fundamental (64,4%) e cerca de 20% não completaram o ensino médio. ¿O trabalho doméstico constitui uma das poucas possibilidades para o emprego de pessoas com baixa escolaridade¿, conclui o estudo, divulgado ontem.

A ala feminina ainda é maioria nesse tipo de serviço: 95,9% dos postos de trabalho doméstico são ocupados por mulheres. Trata-se do segundo maior segmento empregador das paulistanas e o único em que os homens não são maioria. Em primeiro, vem o setor de serviços, que emprega 51,5% das mulheres.

O registro em carteira de trabalho é uma reivindicação tanto de Angelita quanto da maioria das domésticas. Entre as mensalistas, 41,7% não possuem carteira de trabalho assinada. A prática é ainda menos freqüente entre as trabalhadoras diaristas, já que apenas 24,7% delas têm registro em carteira profissional. De acordo com a pesquisa, pouco mais de um terço do total das trabalhadoras nos serviços domésticos (37,6%) contribuem para a Previdência Social.