Título: Itamaraty é o que mais gasta com aluguéis no governo
Autor: Manzano Filho, Gabriel
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2007, Nacional, p. A7

A intenção do presidente Lula de voltar à política de comprar prédios para a atuação do Itamaraty no exterior tem uma razão de ser: a enorme despesa que a União paga de aluguel, por chancelarias, representações e moradias de diplomatas mundo afora. Em 2005, o Ministério das Relações Exteriores gastou 42% de toda a despesa com aluguéis de 34 órgãos dos três Poderes - R$ 124,2 milhões, num total de R$ 292,8 milhões. Nessa lista, divulgada no site Contas Abertas, o Ministério da Fazenda vem a seguir com muito menos, R$ 22,8 milhões, seguido pelo da Previdência, com R$16,7 milhões.

Boa parte disso é mania de grandeza: a diplomacia brasileira está hoje presente em 183 países, muito mais que qualquer outro país da América Latina. Tem chancelarias ou missões de alto nível - como as das Nações Unidas, em Genebra, ou da Organização dos Estados Americanos, em Washington - em 113 deles. ¿E, desse total, o Itamaraty funciona em 34 prédios próprios e aluga os outros 79¿, afirma um diplomata. Somem-se a esses 79 os aluguéis pagos em outros 70 endereços menos importantes, como consulados, vice-consulados e representações comerciais. Para dar um exemplo: além das embaixadas nas capitais o Brasil tem cinco ou seis outros endereços no Paraguai e na Bolívia.O gasto é tamanho que, no final de 2005, o Tribunal de Contas da União exigiu do Itamaraty relatório detalhado dessas despesas.

¿Com essa medida, teremos embaixadas mais bem instaladas e poderemos atender melhor os brasileiros que procuram os consulados¿, comentou um assessor do ministério.

Não tanto pelo que fez Getúlio Vargas, mas graças a programas de crédito do Banco do Brasil nos anos 70 e 80, os embaixadores são os donos da casa nas 15 ou 20 embaixadas mais importantes. Entre elas as de Washington, Londres, Paris, Roma, Madri, Lisboa, Moscou, Tóquio, Buenos Aires, Santiago, Montevidéu, Assunção, além das missões em Genebra e da OEA em Washington. Entre os poucos endereços politicamente importantes onde o Itamaraty paga aluguel estão Berlim, Pequim e Tel-Aviv.

Não há razões para imaginar, porém, que deixar de pagar aluguel traga economias. O Brasil tem uma embaixada muito bem instalada em Buenos Aires, num prédio concebido por Oscar Niemeyer. Perto dali, uma mansão onde mora o embaixador. E, do outro lado da rua, na Avenida 9 de Julho, o consulado brasileiro paga aluguel em um terceiro prédio.

O luxo da instalação da embaixada em Roma, no Palácio Doria Pamphili, é coisa de país milionário. Uma das mais impressionantes, por sua arquitetura, é a de Tóquio, criada pelo arquiteto Ruy Ohtake. A de Paris, o célebre Palácio Schneider, foi moradia de nobres no século 19.