Título: Jornada semanal de trabalho domina discussão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2007, Internacional, p. A11

O tema que ocupou mais tempo no debate foi a jornada de trabalho de 35 horas semanais e sua relação com o desemprego. O candidato direitista Nicolas Sarkozy propõe estender a jornada para 39 horas para os trabalhadores que queiram, com um aumento de 25% em seus salários. Na sua visão, a medida aumentaria o poder de compra, geraria crescimento econômico e diminuiria o desemprego (na faixa de 8%). Para Ségolène Royal, o efeito seria o oposto: os empregadores aproveitariam a jornada extra para não contratar novos trabalhadores. ¿Ela está presa na lógica socialista¿, zombou Sarkozy. ¿Não há nenhum país no mundo, madame, socialista ou não, que siga a lógica da partilha do trabalho. As 35 horas não criaram empregos e são responsáveis por achatamento de salários.¿ A jornada foi criada no governo socialista de Lionel Jospin (1997-2002). Sarkozy cobrou de Ségolène uma posição clara sobre o tema. ¿A resposta muito precisa é que nesse tema, como noutros, haverá negociações entre os parceiros sociais, setor por setor¿, esquivou-se ela.

Já Ségolène responsabilizou Sarkozy, ministro do Interior durante quatro anos, por um aparente aumento da violência, simbolizado pelos distúrbios de outubro e novembro de 2005 nos subúrbios de Paris. Ele disse que no governo Jospin a criminalidade aumentou 18%, enquanto no atual diminuiu 10%.

O debate enveredou então por um tema familiar ao Brasil. Sarkozy disse que vai propor a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, e o aumento das penas em caso de reincidência. Ségolène assumiu a posição comum às esquerdas. Acusando Sarkozy de ¿não ter feito nada¿ para criar centros de ressocialização de menores, opôs-se a essas medidas. Disse que investiria nesses centros e introduziria na lei a possibilidade de equipes de especialistas avaliarem se os menores devem ou não continuar detidos. ¿Se há uma resposta ao primeiro ato de delinqüência, não há reincidência¿, assegurou Ségolène.

Com relação a outro tema familiar, a reforma da Previdência, Sarkozy defendeu a criação de contas de capitalização privadas: ¿Acredito que o cidadão é livre para dispor do dinheiro que ganhou.¿ Já Ségolène anunciou que aumentaria ¿imediatamente¿ as aposentadorias. ¿Com que dinheiro?¿, quis saber o adversário. ¿De um imposto sobre rendimentos na Bolsa de Valores¿, respondeu ela. ¿De quanto por cento?¿, insistiu Sarkozy. ¿Os atores sociais discutirão¿, repetiu Ségolène.