Título: Análise de contas mostra que máfia movimentou R$ 74,6 milhões desde 2000
Autor: Fonseca, Roberto e Filgueiras, Sônia
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2007, Metrópole, p. C1

Entre 1º de janeiro de 2000 e 16 de abril de 2007, um grupo de 37 suspeitos de envolvimento no esquema de venda de sentenças investigado na Operação Hurricane movimentou R$ 74,668 milhões. A informação consta de relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre contas bancárias de acusados, remetido à Polícia Federal na segunda-feira. A PF informou que fará mais prisões, de ¿sardinhas¿ que operavam para os ¿tubarões¿ do esquema.

Em relatórios anteriores remetidos à PF e ao MP, o Coaf já havia identificado movimentações suspeitas associadas a 14 envolvidos. As outras 23 pessoas foram localizadas depois que o conselho fez um ¿pente-fino¿ em seus arquivos. Foram rastreados 80 nomes suspeitos de ligação com o esquema. Uma cópia do relatório também chegou à Procuradoria-Geral da República.

O diretor de Inteligência da PF, Renato da Porciúncula, afirmou que a Hurricane terá uma nova fase, para prender as ¿sardinhas¿. ¿Serão devidamente enlatadas¿, disse. No início da próxima semana, a PF deve concluir uma série de relatórios com o resultado das buscas e apreensões realizadas durante a Hurricane. Foram recolhidas quase 2 toneladas de documentos e material digital.

O advogado Evandro da Fonseca, preso na Hurricane e apontado pela PF como braço direito do advogado e lobista Jaime Garcia Dias - acusado de ser o principal negociador de decisões judiciais favoráveis à máfia do jogo - é servidor da Assembléia Legislativa do Rio (Alerj), desde 1985. Durante toda a investigação do caso, que durou um ano, Fonseca foi monitorado pela PF e jamais apareceu na Alerj, onde está lotado na Diretoria Geral, com salário de R$ 4 mil. Fonseca licenciou-se do cargo em 1º de abril, segundo a assessoria da Alerj. Hoje ele será interrogado pela juíza Ana Paula Vieira de Carvalho, da 6ª Vara Federal.

Ouvido ontem pela juíza, Dias recusou-se a responder às perguntas. Outra interrogada, Ana Cláudia do Espírito Santo, secretária da Associação dos Bingos, confirmou que recebia dinheiro em envelopes mensalmente, mas alegou desconhecer qualquer caso de propina. Ela é apontada pela PF como repassadora de verbas para pagamentos a policiais e servidores públicos.