Título: Estados ficam com maior parcela de verbas do fundo
Autor: Manzano Filho, Gabriel
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2007, Nacional, p. A8

Uma das listas com os nomes de quem recebeu dinheiro do FAT no ano passado, para projetos específicos de ajuda ao trabalhador, indica que, de R$ 206,2 milhões distribuídos para 76 destinatários, os Estados, quase sempre via secretarias do Trabalho, ficaram com o bolo maior, de R$ 136 milhões. Municípios vieram a seguir, com R$ 32 milhões e entidades privadas levaram R$ 37 milhões.

Não há evidências, na lista, de favorecimentos a um ou outro partido. O Estado de São Paulo, governado pelo PSDB, levou a maior fatia, R$ 14,9 milhões e o Rio Grande do Sul (que era PMDB e agora é PSDB) garantiu R$ 12,3 milhões. Entre as cidades, também a Capital paulista (agora com o DEM) recebeu uma boa ajuda, de R$ 2,5 milhões, superada por duas prefeituras do PT - Guarulhos e Santo André, que receberam R$ 2,9 milhões e R$ 2,6 milhões, respectivamente. Outras cidades governadas pelo PT também aparecem com destaque na lista - Osasco e Diadema, com R$ 1,6 milhão cada uma.

Na lista de entidades privadas, embora grandes instituições como a Fundação Banco do Brasil e o Dieese apareçam com valores acima de R$ 4,8 milhões, chamam a atenção dois altos valores passados, respectivamente, à ONG Unitrabalho e à Escola Sindical da CUT em São Paulo. A primeira recebeu R$ 3,4 milhões, a segunda R$ 2,3 milhões.

Na Unitrabalho atuava até o ano passado o ¿chefe da Inteligência¿ da campanha presidencial do PT, Jorge Lorenzetti. Ele foi um dos petistas que o presidente Lula chamou de ¿aloprados¿, por terem tentado prejudicar as candidaturas dos tucanos José Serra e Geraldo Alckmin com o chamado dossiê Vedoin. A manobra foi desmontada pela Polícia Federal.

A Unitrabalho recebeu aquele dinheiro exatamente nos dias em que o escândalo veio a público e a pilha de notas capturadas pela PF, somando R$ 1,75 milhão, apareceu nos jornais e na TV. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse na época que o convênio com a ONG era ¿para prestação de serviços na área de avaliação externa dos programas de qualificação profissional¿.

Como a decisão do Tribunal de Contas da União de interromper verbas para centrais sindicais vale apenas para as pessoas jurídicas de cada uma, a Escola Sindical da CUT em São Paulo pôde receber a ajuda normalmente. Apesar do nome, é uma escola técnica de formação profissional. Outra dessas ¿escolas sindicais¿, no Nordeste, recebeu R$ 400 mil.

Calejado, do alto de seus 40 anos de vivência com o meio sindical, o ex-ministro do Trabalho Almir Pazzianotto, hoje consultor trabalhista, critica as ligações do Fundo com as lideranças sindicais: ¿Sou absolutamente avesso a qualquer dotação pública para entidades privadas, sejam sindicatos, ONGs ou partidos. A pretexto de algum tipo de ajuda, você estabelece um segmento privilegiado na sociedade¿. Ele lembra que a estrutura sindical já é mantida pelo imposto sindical. ¿Para que repassar mais dinheiro?¿

Para o economista e professor Roberto Macedo, da USP, a lógica do programa do FAT faz sentido: o mercado tem gente perdendo emprego e do outro lado empresas buscando pessoas capazes de cumprir suas metas. ¿Mas daí a montar-se uma gigantesca estrutura, que financia centenas de atividades, é outra história.¿ É por isso, pondera o professor, que o FAT tem problemas. ¿Ele precisa de uma estrutura ágil, competente, que diminua o tempo de desemprego do cidadão.¿ Mais que isso, esse sistema ¿tem de ser auditado - e por gente de fora dele. Não é só por causa de corrupção, é para checar se os esforços vão na direção certa¿, diz Macedo.