Título: Relatório sobre guerra no Líbano faz dura crítica a Olmert
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2007, Internacional, p. A13

Uma comissão investigativa de alto nível criticou ontem duramente o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, por ter cometido ¿várias falhas severas¿ na condução da guerra no Líbano em meados do ano passado. Segundo o relatório divulgado ontem, Olmert levou Israel a uma guerra contra o movimento islâmico Hezbollah sem preparação e um plano coerente.

Olmert declarou ontem aos israelenses que não renunciará, mas trabalhará para corrigir os erros. ¿Não seria correto sair e eu não tenho intenção de fazer isso¿, disse o primeiro-ministro, em um discurso à nação transmitido pela TV. ¿Esse governo toma as decisões e esse governo agirá para corrigir os erros.¿ Ele acrescentou que convocou uma reunião para amanhã com seu gabinete para estudar meios de aplicar as recomendações do documento.

A popularidade de Olmert caiu drasticamente (menos de 10%) após a inconclusiva guerra de 34 dias, que terminou com um cessar-fogo em agosto. O primeiro-ministro está sendo investigado por um acordo que ele fez, ainda quando era ministro da Indústria, que teria beneficiado um amigo, e pela privatização de um banco, em 2005, quando era ministro das Finanças.

O relatório da Comissão Winograd, formada em setembro por cinco membros designados pelo governo para investigar o conflito, atribui a Olmert a ¿suprema e ampla responsabilidade¿ pelas decisões do governo e operações do Exército, lançadas de forma apressada e improvisada. O relatório também criticou o ministro da Defesa, Amir Peretz, por sua inexperiência e falta de familiaridade com o Exército e disse que o então chefe militar, o general Dan Halutz, ¿atuou impulsivamente¿, distorceu a preparação do Exército e suprimiu as opiniões dissidentes.

O presidente da comissão, o juiz aposentado Eliyahu Winograd, disse ontem em uma entrevista coletiva que Olmert lançou uma campanha aérea, marítima e terrestre em 12 de julho sem um plano pensado e mostrou ¿grandes erros de critério, responsabilidade e prudência¿.

Segundo Winograd, o declarado propósito de ir à guerra - que era o de libertar dois soldados israelenses capturados pelo Hezbollah e combater o grupo militante - foram ¿ambições excessivas e impossíveis de alcançar¿.

Olmert disse que a guerra melhorou a segurança de Israel ao afastar o Hezbollah, respaldado por Síria e Irã, das áreas fronteiriças e fortalecer uma força de manutenção de paz da ONU no sul do Líbano. Nos 34 dias de conflito morreram entre 1.035 e 1.191 civis e combatentes libaneses e 119 soldados e 39 civis israelenses, segundo estatísticas das duas partes.

A esperança de Olmert é o temor de seus parceiros de coalizão de novas eleições, que, segundo pesquisas, poderiam levar o líder do Partido Likud, Benyamin Netanyahu, ao poder. Membros da coalizão já pediram a renúncia de Olmert, mas a aliança tem ampla maioria no Parlamento e se ele for substituído, provavelmente será por meio de negociações internas, sem a convocação de novas eleições.

Yossi Klein Halevi, analista do Centro Shalem, um instituto de pesquisa de Israel, disse que Olmert está apenas ganhando tempo, pois ¿diante dos precedentes históricos, nenhum governo tem sido capaz de sobreviver ao descontentamento do povo israelense. Qualquer opção que ele escolher sem ser a renúncia será inútil¿.

Funcionários do Hezbollah saudaram o crítico relatório. ¿O relatório confirmou a inabilidade dos políticos e da liderança militar israelense para tomar decisões apropriadas para confrontar o Hezbollah¿, disse o xeque Hassan Ezzeddine, o principal líder do grupo no sul do Líbano.

O presidente americano, George W. Bush, considera que Olmert é ¿essencial¿ para os esforços de paz no Oriente Médio, disse ontem o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, sem comentar o relatório sobre a guerra no Líbano.