Título: Quadrilha vendia vaga em faculdade
Autor: Morais, Rodrigo e Pompeu, Carmen
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2007, Vida&, p. A14

Cinco pessoas foram presas no Ceará, duas no Rio e outras duas estão sendo procuradas pela Polícia Federal por conta de um esquema de venda de vagas em universidades públicas e particulares que funcionava desde 2004. Em apenas 20 fraudes, a quadrilha arrecadou R$ 500 mil. Até agora, essas nove pessoas foram denunciadas pelo procurador da República Marcello Miller à 3ª Vara Federal Criminal do Rio por estelionato, falsificação de documentos públicos e formação de quadrilha. Entre os presos, há duas estudantes de Medicina, um de Enfermagem e um de Direito, além da mãe de um estudante de Medicina foragido, que fazia a contabilidade das fraudes.

A operação, batizada de Vaga Certa, foi iniciada na sexta-feira. A investigação começou meses antes por iniciativa do Ministério Público Federal depois de uma denúncia no Sul do País, e incluiu interceptações telefônicas e quebra de sigilos bancário e fiscal.

Através de escutas feitas desde agosto, a PF descobriu que a quadrilha atuava em concursos vestibulares cujas provas eram elaboradas pela Fundação Cesgranrio. O bando recrutava universitários, chamados de ¿pilotos¿, para fazer provas no lugar de candidatos, que recebiam R$ 6 mil em caso de aprovação. O bando também negociava transferências de universidades particulares para públicas. Cobrava de R$ 25 a R$ 70 mil, dependendo da instituição e do curso escolhidos.

Eram fraudados vestibulares no Rio, São Paulo, Paraná, Ceará e Minas. Com a quadrilha foi apreendida uma máquina usada para falsificar documentos. Também foram recolhidos relatórios preenchidos pelos ¿pilotos¿ com informações sobre a realização da prova, repassados para os ¿contratantes¿.

Entre os procurados está o cearense Olavo Viera de Macedo, de 27 anos, apontado como líder da quadrilha. Segundo seus advogados, ele se apresentaria ainda ontem. Ele é formado em Direito pela Universidade de Fortaleza (Unifor), está matriculado no curso de Medicina e inscreveu-se em vestibulares de várias instituições. A mãe dele, Maria de Fátima Vieira de Macedo, de 51 anos, é acusada de fazer a contabilidade da quadrilha. Ela foi presa ontem.

A maioria das prisões no Ceará refere-se a ¿pilotos¿, ou seja, universitários bem colocados que faziam as provas para terceiros. Entre eles, estão Francisco do Nascimento Moura Neto, de 24 anos, Aline Saraiva Martins, de 21, e Marisa Bandeira de Araújo, de 28. Ele estuda Direito na Unifor e as duas cursam Medicina na Universidade Federal do Ceará (UFC).

A PF informou já ter provas de fraudes em 30 casos no último vestibular da Cesgranrio, a maioria em cursos de Medicina e Odontologia e da Universidade Gama Filho, no Rio. A polícia tem os nomes do estudantes, os valores pagos e as contas em que o dinheiro foi depositado - já bloqueadas pela Justiça. Os envolvidos podem perder a vaga e ser indiciados.

No Rio, foram presos Neide Alvarenga Cedaro e seu marido, Anélio Cedaro, apontados como negociadores do bando. Eles seriam responsáveis pelo recrutamento de ¿pilotos¿, pelo contato com ¿clientes¿ que chegavam por meio de indicações e pelas movimentações financeiras. Eles usavam os nomes falsos de Paulo e Cristina.