Título: Valorização da Bovespa chega a 55% em um ano
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2007, Economia, p. B3
A maré de alta nas bolsas de valores internacionais levou a Bolsa de Valores de São paulo (Bovespa) a alcançar valorização de 55% desde o ponto mínimo da baixa de junho do ano passado. No mesmo período, a bolsa mexicana saltou 80%.
Para especialistas, a exuberância está relacionada ao desempenho do mercado acionário americano, o maior do mundo, no qual o índice S&P 500 subiu 15% nos últimos 12 meses e fechou sexta-feira em 1.505,85, próximo do recorde de 1.527,46 atingido em março de 2000, no auge da bolha da internet.
Uma das razões para a solidez dos emergentes é justamente a acumulação de reservas . O movimento, que já vinha acontecendo em proporções gigantescas nos últimos anos, acelerou-se de forma preocupante, segundo o economista americano Nouriel Roubini.
A China, que lidera a onda, já ultrapassou o US$ 1 trilhão de reservas, tendo acumulado a um ritmo aproximado de US$ 250 bilhões ao ano entre 2003 e 2006, o que dá US$ 21 bilhões por mês. Em seu trabalho mais recente, Roubini nota que, no primeiro trimestre de 2007, aquele ritmo acelerou-se para US$ 40 bilhões por mês, o que daria quase US$ 500 bilhões em um ano. O estoque total de reservas dos países asiáticos já está em US$ 2,5 trilhões.
Mas não é apenas no leste asiático que ocorre o frenesi das reservas internacionais. A Rússia já passou de US$ 300 bilhões e acumulou US$ 30,3 bilhões apenas em abril.
O Brasil, por sua vez, entrou para o que o economista americano Brad Setser - que vem fazendo um acompanhamento sistemático do fenômeno das reservas dos emergentes - chama de ¿o clube dos US$ 10 bilhões¿, ao acumular US$ 12,3 bilhões em abril, além de uma operação no mercado de derivativos equivalente a mais US$ 3 bilhões.
O último dado oficial das reservas internacionais do Brasil é de 2 de maio, quando elas atingiram US$ 122,4 bilhões. Há sinais de que, de lá até a última sexta-feira, o ritmo de compras de dólares pelo BC possa ter disparado para níveis bem acima do registrado em abril.
Kenneth Rogoff, professor de Harvard e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), acha que as intervenções cambiais dos países emergentes estão aumentando a liquidez global e podem se tornar um grave problema para a China, caso o país interrompa o seu ciclo de velocíssimo de crescimento. Mas Rogoff não considera que esse seja o fator decisivo na alta das bolsas dos países em desenvolvimento.
¿As principais razões são o extraordinário crescimento global, os baixos níveis de volatilidade e o contínuo aumento da participação relativa do capital na renda, quando comparado com o trabalho¿, ele diz. Esteja ou não ligada ao acúmulo de reservas, a alta no mercado acionário chinês é, de fato, assustadora (e é uma grande preocupação das autoridades econômicas do país, que já tentaram coibi-las com declarações e medidas para enxugar a liquidez).