Título: Como incluir digitalmente os outros 5 bilhões?
Autor: Gates, Bill
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2007, Link, p. L11

Mais de 30 anos após a inovação de uma das tecnologias de maior versatilidade e poder de capacitação de nosso tempo, o computador pessoal está diretamente disponível para apenas 1 bilhão de pessoas entre toda a população do globo, que já supera 6 bilhões.

Para muitos dos que utilizam diariamente o PC e a internet, esta realidade talvez seja surpreendente. Para nós, é difícil imaginar a vida sem esses instrumentos - mais ainda pelo fato de a tecnologia da informação seguir proporcionando grandes transformações às empresas, às comunicações, à educação e ao lazer.

A visão original da Microsoft, de 'um computador em cada mesa e em cada casa', é hoje uma realidade para apenas 1 bilhão de pessoas, praticamente aquelas que se situam no topo da pirâmide socioeconômica global. Mas a revolução digital ainda precisa se disseminar muito mais, através das áreas rurais, das comunidades carentes e dos países em desenvolvimento.

Obviamente, para milhões de pessoas que vivem com menos de US$ 1 por dia, o acesso à tecnologia não está entre suas prioridades mais prementes: suas principais necessidades são água limpa, serviços médicos, alimentação e moradia. Mas as disparidades existentes no acesso à tecnologia deveriam interessar a todos aqueles que se preocupam em reduzir a pobreza e expandir as oportunidades sociais e econômicas.

Na medida em que a economia mundial está cada vez mais informatizada e movida pela internet, o desenvolvimento social e econômico torna-se ainda mais difícil naquelas regiões e junto àqueles indivíduos que estão à sua margem, do lado menos favorecido da inclusão digital.

Um maior acesso à tecnologia pode ser um poderoso instrumento de contribuição para o desenvolvimento. O amplo desenvolvimento de computadores, de software e de telecomunicações ajuda a impulsionar a produtividade e a reduzir o custo das transações, promovendo o crescimento econômico. Os computadores, os dispositivos móveis e os softwares podem expandir a qualidade e a disponibilidade da educação, dos serviços de saúde e de outros serviços públicos.

A partir dessas considerações, como é possível levar os incontáveis benefícios da tecnologia da informação a 5 bilhões de pessoas que ainda estão à sua margem?

Para os profissionais da área de TI, o desafio está em evoluir o modelo de negócios que prevalece nesta indústria e que foi concebido para atender apenas ao topo da pirâmide econômica. Os preços dos produtos e serviços de tecnologia são normalmente fixados para servirem a consumidores de bom poder aquisitivo ou empresas em condições de fazer volumosos e contínuos investimentos em TI.

Espera-se dos consumidores que os PCs e os produtos de software que eles irão utilizar com exclusividade sejam pagos na íntegra e de forma adiantada.

Este modelo funciona muito bem para o atual 1 bilhão de consumidores da indústria. Mas atingir tantos outros ainda carentes destes recursos demandará diferentes enfoques, ancorados em alguns princípios fundamentais:

Relevância. A indústria precisa oferecer tecnologias e serviços que sejam adequados às comunidades carentes e às regiões em desenvolvimento. Por exemplo, eles devem ser disponibilizados no idioma ou dialeto local e, de uma maneira geral, adaptados às culturas locais. O uso de ilustrações e sons no lugar de textos pode ser extremamente útil para crianças em idade pré-escolar ou para comunidades nas quais prevalece o analfabetismo.

As tecnologias deveriam ir ao encontro das necessidades sociais e econômicas mais prementes dos 5 bilhões de indivíduos excluídos, envolvendo ferramentas educacionais para crianças, oportunidades profissionalizantes para adultos e novas alternativas de comunicação entre amigos e familiares.

Acesso. Um computador por pessoa não é necessariamente a melhor maneira de estender os benefícios da tecnologia a uma comunidade.

O acesso compartilhado em cybercafés, bibliotecas, escolas e centros comunitários já é bastante comum nos países em desenvolvimento. A indústria de TI pode adaptar seus produtos e serviços para reduzir seu custo e ampliar o valor dos recursos de informática compartilhados.

Custo acessível. A indústria de TI deveria se empenhar em reduzir os custos da tecnologia. Deveríamos desenvolver novos dispositivos de baixo custo e criar novos modelos de negócios que possam atender as pessoas de baixo poder aquisitivo ou de nenhum acesso a crédito. Poderíamos, por exemplo, nos inspirar na indústria de telefonia móvel e oferecer mecanismos de pagamento flexível, como planos de financiamento, cartões pré ou pós-pagos e serviços de assinatura.

Estes são os princípios sobre os quais a Microsoft fundamentou sua iniciativa Potencial Ilimitado: exatamente para transpor a exclusão digital ainda prevalecente em todo o mundo. Temos nos empenhados por mais de uma década para ampliar o acesso de pessoas à tecnologia da informação e correspondentes conhecimentos, trabalhando em conjunto com escolas governos, empresas e comunidades locais de cada país onde mantemos nossas atividades. Essas iniciativas já propiciaram treinamento em tecnologia para mais de 2,5 milhões de professores, para mais de 57 milhões de alunos e para 40 milhões de integrantes de comunidades de 101 países.

Nosso objetivo mais amplo é levar os benefícios da tecnologia para cada indivíduo. Com isso em mente, traçamos alguns marcos extremamente ambiciosos: em conjunto com governos e com outros parceiros, pretendemos levar todo o potencial da tecnologia da informação para 1 bilhão de pessoas adicionais, até o ano de 2015.

Dentro deste intuito, estamos expandindo uma série de programas de treinamento e assistência já instituídos em âmbito global. Além disso, estamos desenvolvendo novos modelos de negócios que poderão incrementar o acesso das pessoas à tecnologia.

Por exemplo, lançamos recentemente o conjunto de produtos de software de baixo custo - o Microsoft Student Innovation Suite - que inclui versões do Windows, Microsoft Office, Learning Essentials e Microsoft Math.

A suíte estará disponível a estudantes de vários países em desenvolvimento, por apenas US$ 3, através de programas governamentais, ou, em países desenvolvidos, como parte de programas de fornecimento de PCs especialmente dirigidos a alunos carentes.

Estamos empreendendo estas e outras iniciativas, pois, como líderes da indústria - ou simplesmente como seres humanos - acreditamos que 6 bilhões de pessoas que convivem neste planeta merecem a oportunidade de realizar seu potencial pleno.