Título: Nem infidelidade vai tirar maioria parlamentar de Lula, diz pesquisador
Autor: Assunção, Moacir
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2007, Nacional, p. A8

Se depender de apoio parlamentar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não terá problemas neste segundo mandato. Em compensação, a maioria no Congresso não deve se traduzir em grandes mudanças na legislação, porque os novos ministros têm orientação contrária a reformas.

A previsão é da cientista política Fernanda Machiavelli, da consultoria Tendências, que a partir de pesquisas fez estudo traçando o cenário que Lula enfrentará até 2010. Mesmo que haja alguma infidelidade de deputados governistas, o Executivo dificilmente perderá votações importantes, avalia Rogério Schimidt, também cientista político da Tendências . ¿Até agora, o governo venceu todas as votações importantes. Tem maioria folgada e, se houver alguma derrota, será a exceção e não a regra¿, analisou.

De acordo com o estudo dos pesquisadores, os nove partidos da base governamental controlam atualmente 69% dos votos da Câmara e 62% dos do Senado, contra um índice de 48% na Câmara e 42% no Senado no primeiro mandato.

O maior apoio, no entanto, não deverá se traduzir em mudanças importantes como as reformas trabalhista, política, tributária e da Previdência, mas somente em alterações de baixo impacto, como as medidas do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). O fato de o governo ter ¿zerado¿ a discussão tributária neste mês é sinal nessa direção, por exemplo.

O PMDB, de acordo com o estudo, foi o grande beneficiado na reforma ministerial, com a conquista de cinco ministérios estratégicos, cujos orçamentos equivalem a 48% dos recursos de investimento da União para este ano.

¿O PT, obviamente, perdeu um espaço enorme. Era o grande partido no primeiro mandato e agora divide esse protagonismo com o PMDB¿, disse a cientista política.

MENSALÃO

Com as mudanças, para ela, o governo ficou mais equilibrado, com uma base parlamentar bem mais ampla, o que deve evitar um cenário como o da gestão anterior, quando começaram os escândalos do mensalão. ¿Foi por não ter base que surgiu a necessidade de cooptar parlamentares por métodos, digamos assim, pouco convencionais¿, explicou, referindo-se à acusação de compra de apoio no Congresso.

No entanto, o cenário para as mudanças é pouco favorável, segundo Fernanda. ¿Provavelmente não teremos mais do mesmo, mas sim menos do mesmo no que diz respeito às reformas¿, comentou. O presidente e nenhum dos ministros tem, em sua visão, demonstrado empenho em fazer reformas. ¿O próprio ministro da Previdência, Luiz Marinho, tem se colocado contra as mudanças necessárias em sua pasta.¿

Embora concorde com os números da pesquisadora relacionados ao poder dos partidos aliados , o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), afirmou que a disposição da legenda é apoiar reformas. ¿Nós fizemos a coalizão com o governo conversando sobre programas e projetos, mais especificamente sobre sete pontos programáticos, entre eles as reformas política e tributária¿, afirmou. ¿Faremos esforço para que essas reformas sejam levadas adiante¿,disse, reconhecendo a ¿presença significativa¿ de seu partido no governo.

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), não quis comentar o estudo.