Título: PV cresce, mas racha e põe identidade em risco
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2007, Nacional, p. A9
Passados 20 anos de sua criação, o PV vive hoje um processo complicado de amadurecimento com uma divisão interna entre os chamados verdes históricos e os verdes pragmáticos, que não têm militância no movimento ecológico, mas são maioria na bancada da Câmara. O racha tem como pano de fundo o crescimento da legenda, que em quatro anos abriu a porteira para as filiações e, com isso, conseguiu mais que dobrar sua bancada: elegeu 5 deputados em 2002 e saltou para 13 no ano passado.
¿Deputados egressos do movimento ecológico são hoje minoria dentro do partido. A maioria que tem o poder é não-ecológica¿, reconhece o deputado Fernando Gabeira (RJ), que de símbolo do PV amarga agora a condição de estrela da ala minoritária. ¿Temos pessoas com experiências diferenciadas. Mas havia a pressão de ter de superar a cláusula de barreira nas últimas eleições e precisávamos eleger deputados. A gente está trabalhando para diminuir essas diferenças. Mas hoje todo mundo é meio-ambientalista¿, diz o presidente do partido, José Luiz Penna. Ele admite que hoje ¿é realmente fácil entrar no PV¿.
Um dos exemplos mais citados da diversificação da bancada verde na Câmara é o deputado Edigar Evangelista dos Santos (BA), conhecido como Edigar Mão Branca, cujo principal destaque no currículo são 15 discos de forró. Filiado ao PV desde 2003, o cantor Mão Branca chegou à Câmara como suplente de Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), atualmente Ministro da Integração Nacional. Ganhou notoriedade depois que o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), decidiu proibi-lo de usar chapéu cangaceiro, à la Lampião, no plenário da Casa.
RETALIAÇÕES
Apontado como símbolo da legenda e dono da maior votação entre os verdes nas eleições de 2006, Gabeira sofre na própria carne com o domínio do PV por políticos pragmáticos, preocupados em apoiar o governo. Há cerca de dois meses, seu nome foi preterido para ocupar uma vaga na comissão mista do Congresso que estuda o aquecimento global. Em um primeiro momento, o indicado foi o deputado Fábio Augusto Ramalho dos Santos (MG), conhecido como Fabinho e sem tradição nas questões ambientais. ¿Continuo fazendo meu trabalho, continuo com o PV no que for possível. Pequenas retaliações, como me colocar em suplência de comissões, entendo como leves, até porque não atingem a minha auto-estima¿, diz Gabeira.
Os verdes históricos foram escanteados desde que Marcelo Ortiz (SP) saiu vitorioso da disputa contra Sarney Filho (MA) pela liderança do PV. ¿O Sarney Filho é hoje uma referência no movimento ambientalista e nós esperávamos que isso fosse o suficiente para elegê-lo como líder. Acho que houve um excesso de confiança na vitória dele¿, explica Penna.
As divergências entre históricos e pragmáticos têm provocado reuniões cada vez mais tensas da Executiva Nacional, fazendo com que os mais velhos se recordem dos embates entre autênticos e moderados do antigo MDB. Em março, a cúpula do PV quase partiu para a briga física, com ameaças até de tiros, segundo relato de integrantes do partido.
Alfredo Sirkis, candidato derrotado do PV ao Senado pelo Rio de Janeiro, tentou enquadrar os pragmáticos, ansiosos por aderir ao governo Lula sem restrições. ¿Não-verde que quer aprender pode ficar no partido. Bandido, não¿, alertou Sirkis. Foi então que o PV passou a adotar uma postura mais independente e votou a favor da criação da CPI do Apagão Aéreo na Câmara. ¿Estamos afinando a bancada¿, diz Penna.