Título: 'Não há obstáculos ao crescimento'
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2007, Economia, p. B7
No curto prazo, nada vai atrapalhar a trajetória do crescimento econômico, avaliou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista ao Estado. Ele acha que, no médio e longo prazos, é possível que o País sofra com falta de infra-estrutura, se não forem implementados os projetos que constam do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O governo, segundo o ministro, está usando ¿todos os instrumentos¿ disponíveis para tirar as obras do papel. O risco de um novo apagão, reconheceu Mantega, exige ¿alerta¿ constante. Ele citou como exemplo de dificuldade a suspensão das obras de construção da hidrelétrica de Estreito (MA), na terça-feira passada.
O empreendimento, a cargo de um consórcio formado pelas empresas Vale do Rio Doce, Alcoa, Bilinton Metais, Camargo Corrêa e Tractebel, foi interrompido pelo Ministério Público, que quer novos estudos sobre o impacto que as obras provocarão nos índios craôs, apinajés e cricatis, que vivem na região.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Juros e inflação estão em queda, assim como o risco país. As projeções de crescimento econômico estão sendo revistas para cima. Há algo que possa atrapalhar esse cenário?
Neste momento, não vejo nenhum desafio. Quer dizer, desafio sempre há: melhorar alguns setores da indústria de transformação, conseguir contrabalançar o efeito que o câmbio valorizado produz em alguns setores. Mas são questões pelo menos de médio e longo prazos. Não vejo nada que possa, no curto prazo, causar algum obstáculo para esse crescimento que está havendo na economia brasileira.
A falta de infra-estrutura não pode ser um problema?
No curto prazo, não. Poderá haver problema daqui a cinco, seis, sete anos, caso não se consiga implementar os projetos que já estão no pipeline, já programados.
A produção agrícola está recuperando o vigor depois de duas safras complicadas. Vêm aí estrangulamentos nas rodovias e nos portos?
Nossos portos, apesar de ter alguma precariedade, estão dando conta de um volume crescente de exportações, e o governo estabeleceu como prioridade investimentos e recuperação de toda essa infra-estrutura. Não vejo como isso possa impedir esse crescimento.
E o risco de um apagão?
Como eu disse, no curto prazo não há nenhuma perspectiva de apagão. Mas é preciso ficar alerta, porque vamos ter de suprir, pensar nessas questões no médio e longo prazos. É preciso se antecipar, ampliar a oferta na frente da demanda. Muitas vezes, demora para poder fazer as construções.
Esta semana, houve o embargo, a interrupção de uma hidrelétrica. Então, temos que ficar alertas, temos que fazer investimentos cada vez maiores, mas tudo isso está no PAC. O PAC é um programa que visa a impedir que haja gargalos de infra-estrutura.
Se nós conseguirmos realizar boa parte dos projetos que estão no PAC, não haverá problemas. Essa é a prioridade do governo, estamos nos esforçando, utilizando todos os instrumentos que temos para que isso se verifique.
Quem é: Guido Mantega
Nasceu em Gênova, Itália, e tem 58 anos.
Assessor econômico de Lula desde 1993, foi um dos coordenadores do Programa Econômico do PT na campanha de 2002.
No governo Lula, foi ministro do Planejamento, presidente do BNDES e ministro da Fazenda desde 27 de março de 2006.