Título: 'É preciso saber se apagões foram orquestrados'
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2007, Nacional, p. A8

Com a experiência de quem relatou a CPI dos Correios, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) avalia que a nova CPI do Apagão Aéreo vai mirar a corrupção na Infraero, mas faz outra aposta.

Diz que, a depender do resultado da investigação, quem poderá sair ganhando, e muito, são as seguradoras envolvidas no acidente com o Boeing da Gol que matou 154 pessoas no ano passado.

Por isto mesmo, ele deixa claro, em entrevista ao Estado, que um dos maiores desafios da CPI será definir se as falhas que provocaram o acidente da Gol são de responsabilidade pública ou privada.

Que serventia terá a CPI do Apagão Aéreo?

A utilidade da CPI parte do instrumental jurídico de que ela se vale para investigar. Com o poder que tem para quebrar sigilos (telefônicos, bancários e fiscais), ela se valerá deste instrumento para descobrir a rede de corrupção na Infraero.

Isto quer dizer que o foco principal será na Infraero e não nas causas do apagão?

A CPI terá esses dois focos. O enfoque do acidente é para saber se foi conseqüência da deficiência do serviço de controle do tráfego aéreo e a partir daí definir se a responsabilidade é pública ou privada. Como houve uma escalada exagerada de mau funcionamento do sistema, do acidente para cá, é muito importante quebrar sigilos para saber a origem do apagão. Se for do governo, aí não vai ter jeito: vamos ter que pagar.

Então teremos um forte lobby das seguradoras nesta CPI e elas podem sair como beneficiárias do inquérito?

Claro. Imagine uma indenização de bilhões, no Brasil e nos Estados Unidos, já que o acidente envolveu um jatinho pilotado por norte-americanos. O grande foco desta CPI é definir quem vai pagar. O lobby não é o problema. Ao contrário, acho que pior são os acordos dos advogados, entre quatro paredes.

O senhor cogita a hipótese de a crise aérea ser produto de um complô?

Precisamos saber se os seguidos apagões foram orquestrados para proteger alguém. Se você olhar bem, houve uma escalada exagerada de mau funcionamento do sistema. Temos que saber se isto é real ou se houve um conluio para produzir este resultado.

Quem é: Osmar Serraglio

É advogado, especializado em Processo Civil

Cumpre o terceiro mandato na Câmara

Foi relator da CPI dos Correios.