Título: 'Rússia deixa claro que não será atropelada pelos EUA', diz especialista
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2007, Internacional, p. A17

A atual crise entre a Rússia e os EUA em relação ao escudo antimíssil americano na Europa pode ter significado muito mais simbólico do que prático. Para a especialista em Rússia da Universidade de San Diego Vidya Nadkarni, os russos sabem que não ganharão a queda-de-braço com os EUA, mas querem deixar claro que não permitirão que seus interesses sejam atropelados.

¿Putin não espera que os EUA usem o escudo antimíssil contra o país. Ele sabe que isso não representa uma ameaça a sua segurança¿, explicou por telefone a professora ao Estado. Segundo Vidya, o governo russo está mais preocupado com a invasão americana em áreas que considera de sua influência no Leste Europeu. ¿É como a Doutrina Monroe (1823) que estabelecia que os europeus não poderiam intrometer-se na América do Sul. Os russos têm a mesma posição sobre o Leste Europeu¿, disse.

A professora afirmou que é legítimo o argumento russo de que o Irã e Coréia do Norte não são uma ameaça para os EUA e, portanto, não há necessidade de um escudo. ¿Os russos vêem essa questão como uma tentativa dos americanos de diminuir o papel da Rússia em assuntos mundiais.¿

Vidya descartou a acusação de Moscou de que o verdadeiro objetivo do escudo antimíssil dos EUA seria espionar a Rússia. Para ela, o real objetivo americano pode estar ligado aos interesses domésticos, especificamente a indústria de defesa. ¿Bush tem ligações muito próximas com essa indústria. Os próprios americanos questionam a eficácia do sistema, já que ele não protegeria o país de um novo 11 de Setembro¿, afirmou Vidya.

Apesar da escalada da retórica russa, a crise não deve sair de controle. Vidya explicou que os russos estão empenhados em retomar a influência que perderam após o fim da União Soviética.

Apesar de ainda não estar claro se os russos conseguirão isso, Vidya disse que ¿Putin é um homem pragmático e sabe que precisa da cooperação do Ocidente em vários assuntos, especialmente para a entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC). Ele nunca tomaria uma decisão que prejudicasse o país¿.