Título: Putin promete resposta a escudo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2007, Internacional, p. A17
O presidente russo, Vladimir Putin, enfatizou ontem a oposição de Moscou ao plano dos EUA de instalar um sistema de defesa antimísseis no Leste Europeu e disse que a Rússia vai adotar ¿medidas apropriadas¿ em resposta.
Putin disse ao presidente da República Checa, Vaclav Klaus, durante um encontro no Kremlin, que o escudo de defesa americano poderia ser usado para espionar as atividades militares russas. ¿Esse sistema vai monitorar o território russo além dos Montes Urais se não adotarmos uma resposta¿, disse Putin a Klaus. ¿Não vamos ficar histéricos sobre isso. Apenas adotaremos medidas apropriadas¿, declarou o líder russo, sem dar mais detalhes.
A Rússia considera o plano dos EUA de instalar uma bateria de mísseis antimísseis na Polônia e um radar na República Checa como uma grande ameaça a sua segurança nacional. Washington diz que o sistema é necessário para defender a Europa e as forças americanas contra o que chama de ¿Estados fora-da-lei¿ como o Irã e a Coréia do Norte.
No entanto, Putin disse ontem que tais ameaças não existem. ¿Nenhum dos terroristas dos quais eles querem se proteger, nem Irã ou Coréia do Norte, têm sistemas desse tipo¿, disse o líder russo. ¿Falar de terroristas é cômico. Eles usam outros métodos.¿
Para Moscou, o real objetivo dos EUA são os arsenais de mísseis estratégicos da Rússia. ¿A ameaça de dano mútuo e até mesmo de destruição está aumentando¿, disse Putin após o encontro com o presidente checo, informaram as agências russas Interfax e Itar-Tass.
Em meio à sua disputa com os EUA, Putin surpreendeu o Ocidente na quinta-feira ao anunciar a suspensão da participação da Rússia no Tratado sobre as Forças Convencionais na Europa, que fixa estritos limites para o deslocamento de armamento convencional e tropas no continente.
Ontem, preocupada com o aumento da crise, a Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) pediu ao governo russo mais detalhes sobre a moratória ao tratado sobre armas. A Otan quer esclarecimentos de Moscou sobre a entrada em vigência e amplitude da moratória, disse o porta-voz da aliança, James Appathurai. A França pediu ontem à Rússia que reveja sua decisão e a Alemanha, que Moscou evite a escalada da disputa.
Putin também comparou ontem os planos dos EUA de instalar um escudo antimísseis na Europa com o deslocamento de mísseis americanos Pershing na década de 80. Ele se referiu a um dos piores momentos da Guerra Fria, quando a União Soviética instalou no Leste Europeu seus mísseis de médio alcance SS-20 e Otan e EUA, em resposta, deslocaram aos países aliados europeus mísseis Pershing-2 e mísseis de cruzeiro, capazes de alcançar alvos soviéticos em minutos.
REESTRUTURAÇÃO
Putin assinou ontem um decreto reorganizando o setor de energia nuclear da Rússia. Segundo um funcionário russo, citado pela agência RIA-Novosti, será criada uma companhia estatal que absorverá cerca de 65 empresas, de mineradoras de urânio a fábricas de centrais elétricas.