Título: Palácio do Eliseu espera 'estranho casal'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2007, Internacional, p. A18

Não importa quem vai conquistar a presidência da França no dia 6 de maio, o fato é que o estilo de vida no Palácio do Eliseu está destinado a mudar. Não há futuro para a função de parceiro devotado, ocupada durante 12 anos por Bernadette Chirac - que, na qualidade de primeira-dama, presidiu órgãos de beneficência, realizou jantares e atuou como autoridade local na cidadezinha rural de Correze.

Os dois candidatos à presidência, com seus respectivos parceiros, formam casais não convencionais. Ségolène Royal, candidata do Partido Socialista (PS), não é casada com o pai dos seus quatro filhos, François Hollande. E mais do que isso, eles são rivais políticos. Como chefe do PS, Hollande quase foi indicado como o candidato do partido - e diz que tentará concorrer em 2012, caso Ségolène seja derrotada desta vez.

¿Sem dúvida, existe também uma competição entre nós¿, afirmou ele esta semana, em entrevista num trem que seguia de Paris para Nantes. Mesmo se Ségolène vencer a eleição, Hollande não se juntará a ela no Eliseu, durante o seu mandato de cinco anos. ¿Não serei eu o eleito¿, disse. ¿Se Ségolène vencer, é dela a grande responsabilidade e ela terá de decidir a melhor maneira de exercê-la, incluindo o lugar onde vai viver.¿

Não é o caso de Bill e Hillary Clinton em 1992, quando Clinton disse ao povo americano que teriam ¿dois pelo preço de um¿, prometendo que Hillary seria uma parceira política em tempo integral, podendo até participar do gabinete, na sua presidência. ¿Na França, você não precisa de dois, mas de um¿, disse Hollande. ¿Meu papel não é de `co-candidato¿ de Ségolène. Minha função é ajudá-la, porém, como secretário do partido, e não por minha situação particular.¿

Cecilia Sarkozy, 49 anos, mulher do candidato conservador Nicolas Sarkozy, com quem teve um filho, se ausentou completamente da campanha. Indagada sobre como imaginava a sua vida em 10 anos, ela respondeu : ¿Nos Estados Unidos, correndo no Central Park.¿ ¿Não me vejo como primeira-dama¿, declarou num programa popular da televisão francesa. ¿Isso me aborrece. Não sou politicamente correta.¿

Nos 49 anos de história da Quinta República há exemplos de esposas de presidentes - e mesmo presidentes - que não apreciavam viver no Palácio do Eliseu. Georges Pompidou, Valery Giscard d´ Estaing , François Mitterrand, e suas esposas, mantiveram suas residências particulares e raramente passavam uma noite no Eliseu. Quando se perguntou à esposa de D´Estaing, Anne-Aymone, o que ela mais desejava fazer como primeira-dama, ela respondeu: ¿Não ser mais uma.¿ Mas essa função começa a mudar, deixando de ser a base de apoio que exige muita paciência, para se tornar um símbolo de independência.

Hollande pode já ter sofrido o suficiente. Ele é o homem esquecido da política presidencial francesa, o único que poderia ser um concorrente. Em vez disso, foi condenado a uma pequena função subalterna: atravessar o país para promover Ségolène. A relação do casal é, no mínimo, complicada. Os dois estão juntos desde que se conheceram, no final da década de 70, na École Nationale d´ Administration, escola superior da elite política da França. Como deputados no Parlamento, seus gabinetes eram ligados por uma porta comum.

Mas o relacionamento não é muito claro. Durante a campanha, Ségolène várias vezes se declarou ¿uma mulher livre¿. Em entrevista, no ano passado, afirmou sem rodeios que ¿não somos um casal¿. Indagado esta semana, Hollande retrucou: ¿Não vamos nem confirmar nem negar. Nossa vida nos pertence.¿ Ségolène negou rumores de que o casal estaria separado.

Ao contrário de Hollande, Cecilia Sarkozy ficou quase totalmente ausente da campanha, embora tenha trabalhado ao lado do marido quando ele ocupou o Ministério do Interior, cuidando da sua agenda, sua estratégia e até da sua dieta. No primeiro turno das eleições, contudo, Cecilia reapareceu repentinamente, acompanhando o marido na sua seção eleitoral, para votarem.

Em recente entrevista, Sarkozy disse que pretende viver no Palácio do Eliseu, se for eleito. Indagado se sua esposa assumirá a função de primeira-dama, ele se esquivou. ¿Você elegeu um candidato, não uma família¿, respondeu. ¿Se eu for eleito minha mulher terá uma função. Isso é óbvio. Fui criticado durante anos por expor minha família. Agora me perguntam por que não a exponho.¿